domingo, 29 de setembro de 2019

Fases entrelaçadas


Sob as leis biográficas pode-se reconhecer o desenrolar das etapas da vida e descobrir que  nossas vivências tem um significado, um propósito, no processo do nosso desenvolvimento.

E, à medida que vamos abordando cada setênio, podemos nos sentir como que integrando peças numa imagem mais ampla, como num quebra cabeça, constatando que cada parte é preciosa para revelar o todo. 

Ao chegar na fase entre os 49 e 56 anos, o oitavo setênio, podemos perceber que já fizemos uma boa caminhada e estamos um pouco mais adaptados às mudanças na nossa vitalidade.
E embora possamos fazer, em muitos momentos, uma avaliação da nossa jornada através de uma retrospectiva e realinhar nosso percurso, nesta etapa, é possível estarmos mais atentos à nossa voz interior, mais conectados com o que sentimos, porém, não tão identificados com nossas paixões, e por isso, extrair dali o extrato mais essencial das nossas experiências.
Nessa época, vale especialmente estarmos atentos à voz do nosso coração e atentar para que se os medos de outrora, aqueles que vem nos acompanhando há muito tempo, ou não, tem nos dificultado retribuir o calor e a beleza que recolhemos em tantos encontros.
Como seres sociais que somos, enquanto humanos, nosso sentido de pertencer é inerente. Queremos fazer parte. Estamos interligados, e queremos constantemente reconhecer como estamos, o quanto estamos. Seja no desejo de ser reconhecido pelo pai e pela mãe, e pela filha e pelo filho, pelo bom trabalho que realizamos, pela comida que acabamos de fazer, pela foto que postamos, pelo desejo de compartilhar fragmentos da nossa vida, e por aí afora, queremos fazer e mostrar que fazemos parte.
No segundo setênio, nos deparamos, intensamente, com o medo de não pertencer. Esse sentimento surge num período da vida em que, ao mesmo tempo em que nos despregamos da infância,  nos separamos mais do pai e da mãe, ganhamos mais autonomia, temos, também, receio de que não pertençamos mais, e surjam dúvidas sobre: 'como cheguei até aqui ?', 'será que eles são mesmo meus pais?', 'o que acontece quando a gente morre?'.
Esse fenômeno ocorre no mesmo momento em que nossa respiração e batimentos cardíacos se adequam a um novo ritmo, igual ao dos adultos, marcando o final da infância.
E se até aqui, para sobrevivermos, precisávamos essencialmente de cuidado e vínculo com um outro,  onde o outro deveria se empenhar e se responsabilizar por esse cuidado e vínculo, a partir dos 9 anos, nos tornamos mais conscientes da troca entre dentro e fora, com a respiração, e passamos a nos empenhar também em ir ao encontro do outro, nos tornarmos autores das trocas estabelecidas, pois elas já não chegam prontas para nós.
A vida pulsa, pulsa e pulsa e aqui estamos vivendo nosso amadurecimento, na fase adulta,  e podendo nos deparar com as mesmas questões, numa outra dimensão: 'como cheguei até aqui ?', 'o que acontece quando a gente morre?', 'como me movo na direção do outro?'.
Como nosso sentido de pertencimento está vibrando nesta fase dos 49 aos 56 anos?
Este é um período muito rico para revisar a capacidade de pertencer.
E, por desdobramento, podemos examinar o desenvolvimento das nossas relações e qual sustentação temos dado as nossas habilidades sociais, principalmente desabrochadas em torno dos 28-35 anos?
Quem são meus atuais amigos e companheiros de jornada ?
Qual é a rede de encontros em que me apoio?
Quais são os temas que me entretém ? O que eles despertam em mim?
Como contribuo com minhas experiências para aqueles que estão passando por fases de vida anteriores à minha?
O que tenho construído através dos meus relacionamentos?
Quais são as marcas que os relacionamentos tem deixado em mim?
Do que quero fazer parte?
Neste momento em que nossas forças vitais se desprendem mais um pouco e sensibilizam outros sentidos, com o novo ritmo que se imprime, a reconsideração do que foi feito pode levar a uma nova meta, a um novo desenvolvimento.
O que você espera de você nesta etapa da vida?

Olivia R S Gonzalez
Aconselhadora biográfica, terapeuta corporal e terapeuta floral. 

domingo, 22 de setembro de 2019

Fase da Sabedoria


Chegamos à fase da sabedoria, marcada pelo período dos 49 aos 56 anos, o 8º setênio. Nessa fase, a sabedoria proporciona maior harmonia interna para aqueles que vieram, desde os últimos setênios, cultivando seu autodesenvolvimento.
Não há mais necessidade de reagir a tudo o que vêm de fora e sim de agir decidindo onde colocar energia. Abre-se espaço para ouvir, silenciar e escolher o que responder, por que razão e para quê. Quando chegam as demandas externas, há um questionamento interno que diz:
“Preciso mesmo? Tenho condições de atender tais solicitações ou elas vão exigir demais de mim?”
É sábio escutar o outro e a si. Ouvir a voz interna é um ato de autocuidado, para que se possa estar inteiro, de corpo e alma, onde se propõe estar. Não é mais hora de forçar as coisas, por isso, nesse período, ouvir os próprios sentimentos e o que o corpo diz fica mais intenso e necessário.
A necessidade de cuidar dos ritmos se faz presente desde o setênio anterior e, no atual, sua importância fica ainda mais acentuada. O ritmo é o segredo da vida, traz um movimento harmônico e cadenciado a ela, substituindo a força.
É uma medida de saúde, bem-estar e vitalidade equilibrar a vida organizando a rotina de forma consciente e rítmica, de modo que se tenha tempo de qualidade para dormir, comer, trabalhar, descansar e cultivar o lazer.
Parece algo óbvio, mas com as pressões de prazos e entregas constantes, nós nos desconectamos do nosso tempo interno. E tal desconexão nos traz maior propensão ao estresse e ao adoecimento. Sendo assim, cultivar a cadência é uma forma de preservar a saúde física, mental, emocional e espiritual.
O fim do 8º setênio marca uma passagem para a aceitação de outro patamar da maturidade, que pode ser ainda mais rico. Vivencia-se também uma crise voltada ao cumprimento da jornada através do questionamento interno: “eu estou cumprindo minha missão?”.
Essa pergunta esteve viva em outras fases da vida, mas, no momento em questão, ela vem como se estivéssemos vivendo o nosso outono, por isso há necessidade de uma investigação interna, através de uma segunda pergunta:
“Quais galhos secos de minha árvore preciso cortar para que novos brotos possam surgir?”

Andressa Miiashiro
Psicóloga, facilito jornadas de desenvolvimento com foco em inteligência emocional e relacional, por meio do Psicodrama, Comunicação Não Violenta e Antroposofia. www.lotustalentos.com.br

domingo, 15 de setembro de 2019

Vamos Viver – O oitavo setênio no feminino



Quando eu estava próxima de completar cinquenta anos, entrando no oitavo setênio, confesso que experimentei uma insegurança em relação de como seria a vida a partir desta idade.
O declínio físico iniciado no setênio anterior irá se acentuar e, será que eu vou conseguir realizar tudo que ainda sinto vontade de fazer?
Este setênio é muito importante para nós mulheres porque inicia a menopausa, com todos os seus sintomas, mas também, quando a menstruação cessa por completo e nós sabemos que não podemos mais engravidar, nós nos sentimos mais livres, pois nossos filhos já são adultos e estão em busca dos seus caminhos no mundo.
A partir deste momento podemos realizar vontades e desejos que ficaram no nosso íntimo, como uma espécie de semente na incubadora, que neste momento estão prontos para germinar e dar frutos, agora as decisões são tomadas conscientemente e em prol de nós mesmos, e também para o mundo, ou melhor, para o social e espiritual.
Como o hormônio masculino fica mais evidente e nos dá mais força e objetividade, podemos aplicar essas condições em uma tarefa nova, algo que nos realize pessoalmente, conforme o Professor Lievegoed em seu livro Fases da Vida: “há também mulheres que atravessam a crise da menopausa com uma visão positiva da vida e, alegremente, acham que podem novamente agarrar toda a espécie de coisas e que podem, ao menos, perceber um novo aspecto de seu leitmotiv. Gratas pela fase passada, onde foram capazes de ser úteis a outros, agora elas encontram uma nova tarefa na vida social...”
Mas temos o lado negativo dessas condições também, nós podemos nos tornar tiranas e amargas, ficando nos vitimando por estarmos sozinhas e culpando os filhos por esse momento, colocando que dedicamos toda a nossa juventude cuidando deles, e agora não retribuem essa dedicação na medida em que esperamos, não enxergando que essa afirmação nos leva a um afastamento dos filhos, do marido ou companheiro e até amigos.
Temos que empregar todo potencial que se abre nesta fase para nós mesmos.
Uma vez, minha psicóloga uma vez me perguntou: O que você quer ser quando envelhecer? Confesso que essa pergunta me intrigou por muito tempo, e durante o setênio anterior e também agora que estou no oitavo setênio essa pergunta tem uma resposta clara, agora posso me dedicar á divulgação do Impulso Antroposófico para o mundo.
E essa pergunta deveria ser feitas a todas as pessoas que ingressam no sétimo setênio, dando a elas a oportunidade de se planejarem para essa fase posterior, pesquisando tanto em seu interior, como no mundo prático qual tarefa mais agrada, como por exemplo: jardinagem, retomar o aprendizado de um instrumento, trabalhos voluntários e etc. Porque a fase do oitavo setênio pode ser chamada a fase mais altruísta ou, como Dra. Gundrum em seu livro Tomar a vida nas próprias mãos: “Eu gostaria de denominá-la a“ a fase ético-moral””. “Nesta fase da vida, já não nos preocupamos tanto com o nosso destino, mas com o destino do outro; abrimo-nos mais para a humanidade.”
Até nos momentos atuais, uma importante marca de suplemento alimentar fez sua propaganda na televisão com essa pergunta “O que eu quero ser quando eu envelhecer?”, por isso nos dias de hoje, onde nós mulheres de cinquenta anos ao invés de nos sentirmos velhas ou desvalorizadas, devemos nos priorizar e buscar todos os dias novos objetivos, pois não é tarde para isso, temos muita vida ainda para ser vivida.
Outro aspecto importante para ser observado nesta fase da vida é, que nós podemos nos tornar “mães universais”, Rudolf Steiner colocou, falando sobre ensino, ”quem aprendeu a rezar, a ter devoção, veneração no segundo setênio, agora, nesta fase é capaz de dar a benção.”, então nós também podemos ser procuradas por pessoas mais jovens que querem conselhos e nosso lar ser acolhedor aos amigos dos filhos.
Temos nessa fase tudo de bom para seguirmos em frente, a maturidade adquirida durante os primeiros cinquenta anos nos auxiliam hoje para um agir dotado de maior segurança e consciência.
No final do oitavo setênio, por volta dos 55 e 56 anos temos além da passagem para o nono setênio, temos o 3º nodo lunar, uma janela se abre e nos mostra novamente a meta reencarnatória, e assim podemos experimentar uma crise, porque estamos nos direcionando para a velhice, e aí?
Se estivermos dispostos a conduzir essa nova fase, encarando a aproximação da velhice com bom humor, produzido a partir do nosso pensar, sentir e querer coerentes e  conscientes, com objetivos, esse momento pode ser muito rico e repleto de realizações.
Para essa fase do oitavo setênio tenho a história de Bia Kern, uma gaúcha que aos 54 anos, já realizada profissionalmente funda em Canoas no Rio Grande do Sul a ONG Mulheres em Construção, essa ONG capacita mulheres de todas as idades para trabalhar na construção civil e terem independência financeira; “ A fundadora da ONG diz que nada se compara à alegria nos olhos de uma mulher que descobre pela primeira vez a autonomia e a liberdade de ter a própria renda.”
Por isso, caros leitores, principalmente leitoras, não temos motivo para desanimar diante da nova fase, podemos fazer muitas coisas boas para o mundo, e naturalmente seguiremos em frente para a vinda dos netos e quem sabe bisnetos, e teremos muita paciência e vontade de ensiná-los e guiá-los na nova existência, como bem disse Professor Lievegoed em seu livro Fase da Vida: E com modéstia e élan ela seguramente irá mergulhar  numa nova tarefa como avó, criando para uma segunda geração um ambiente no qual esta possa sentir-se segura e aquecida, e onde possa ouvir histórias tão dotadas de vida como em nenhum outro lugar.
Diante de todo o tema exposto, eu só posso voltar ao título e dizer com todo o meu carinho Vamos Viver!
Para finalizar compartilho o poema de LUIS MAURICIO SANTOS em 1982
Tempos Modernos

Eu vejo a vida melhor no futuro
Eu vejo isso por cima de um muro de hipocrisia
Que insiste em nos rodear

Eu vejo a vida mais clara e farta
Repleta de toda satisfação
Que se tem direito
Do firmamento ao chão

Eu quero crer no amor numa boa
Que isto valha pra qualquer pessoa
Que realizar a força que tem uma paixão

Eu vejo um novo começo de era
De gente fina, elegante e sincera
Com habilidade
Pra dizer mais sim do que não, não não

Hoje o tempo voa, amor
Escorre pelas mãos
Mesmo sem se sentir

Não há tempo que volte, amor
Vamos viver tudo o que há pra viver
Vamos nos permitir

Rita Paula Wey Nunes da Costa

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Autocompaixão como caminho do meio


Vejo a autocompaixão como um caminho a ser trilhado, que pode trazer muito mais leveza, bem-estar e saúde em todas as dimensões.
Até descobrir a autocompaixão, eu conhecia só um caminho, o da autocrítica. Você deve estar se perguntando: e isso não é bom? Muitos de nós aprendemos que essa capacidade de nos cobrar e de nos exigir é extremamente importante para sempre buscarmos nos aprimorar.
A questão é: qual é o tom dessa voz interna? Qual é a frequência que aparece em sua mente?
Parece que, algumas vezes, essa voz da autocrítica “perde um pouco a mão”. Grita ao invés de falar, usa palavras não tão boas, que chegam a machucar, e repete as mesmas coisas diariamente, como uma ruminação mental que não tem fim.   
Diante de algum erro ou um desafio, às vezes ou muitas vezes, essa voz interna diz:
“Você não está preparado (a)”, “você nem é tão bom assim”, “você nunca acerta”, “você é um fracassado (a)”.
Aparentemente, ela começa com boas intenções, apontando o que necessita ser aprimorado, mas o excesso de autocrítica pode ganhar um tom hostil, duro e repetitivo, criando medo, insegurança e muita frustração.
A autocompaixão, por sua vez, possibilita um equilíbrio, o caminho do meio!

Há o reconhecimento da falha, da fraqueza e da dor através de uma voz interna cuidadosa e gentil, que fortalece o cultivo da autoestima, uma vez que a relação consigo mesmo é estabelecida por meio de compreensão e respeito, e não mais de autocondenação. Dessa forma, o diálogo interno duro e cruel é substituído pelo acolhimento, que oferece espaço para ser compreensivo com o que está vivendo e pensar com mais clareza no que pode ser feito dali em diante.
A autocompaixão envolve três componentes importantes: a autobondade, o reconhecimento da experiência humana comum e a atenção plena.
A autobondade busca dissolver pensamentos depreciativos, que muitas vezes causam insegurança e frustração, a partir de uma relação mais saudável consigo. Não tem a ver com vitimização e sim autoempatia. Há a identificação do problema, mas sem que a pessoa se condene ou se maltrate.  
O reconhecimento da experiência humana comum nos traz à lembrança que “errar é humano” e que somos todos falíveis, o que permite abrirmo-nos à nossa própria vulnerabilidade e à do outro. Gerando, dessa forma, um senso de pertencimento e de conexão humana.  
Atenção plena é ter consciência da consciência. O estado de presença propicia a visão clara e a aceitação do que está ocorrendo no aqui e agora. Consiste em ver as coisas tal como são, nem mais, nem menos, a fim de agirmos frente às situações da vida de forma compassiva e, portanto, eficaz.
Enfim, a autocompaixão não nega o sofrimento e os erros. Reconhece-os com a devida clareza, sem negligenciá-los, tendo em vista que emoções suprimidas tendem a ficar mais fortes, mesmo que silenciosamente. Trata-se de um ato de autocuidado, que ajuda a lidar com sentimentos de imperfeição e inadequação por meio da gentileza, da compreensão e da não violência para consigo.
Sinto este texto de Kristin Neff como uma possibilidade de ouvirmos a nós mesmos, sentirmos o que sentimos e nos acolhermos:   
“Este é um momento de sofrimento.
O sofrimento faz parte da vida.
Posso ser gentil comigo agora.
Posso me oferecer a compaixão de que preciso”
Extraído do livro: “Autocompaixão: Pare de se torturar e deixe a insegurança para trás 
Andressa Miiashiro
Psicóloga, facilito jornadas de desenvolvimento com foco em inteligência emocional e relacional, por meio do Psicodrama, Comunicação Não Violenta e Antroposofia. www.lotustalentos.com.br

Tema de Reflexão do Mês

Escolhemos um tema como base de reflexão que será iluminado por profissionais de diversas áreas segundo seu olhar e suas vivências. Colaborações e comentários são bem vindos!

Iniciativas Antroposóficas na ZN

Escola Waldorf Franscisco de Assis (11) 22310152 (11) 22317276 www.facebook.com/EscolaWaldorfFransciscoDeAssis

Projeto Médico Pedagógico e Social Sol Violeta (PMPSSV)

Casa da Antroposofia ZN Rua Guajurus, 222 Jardim São Paulo (11) 35699600