quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Eu sou amor


Eu. Eu sou. Eu sou eu. Eu sou o resultado sagrado de uma boa, bela e verdadeira escultura Divina. Eu sou intocado nesta sacralidade. Eu sou a individualidade que trago no coração os liames Divinos. Eu sou aquele que precisa aprender caminho afora que o haurir o Divino do coração é tarefa árdua, que exige passos fundos, calor inquietante, determinação inquebrantável. Eu sou o ser que vinculado ao todo percorre os caminhos do cosmos mobilizado pelo dever de ser finalmente LIVRE. Eu sou a liberdade de escolher o caminho da liberdade. Eu aprendo que preciso prosseguir para o infinito. Eu compreendo que todos são livres neste caminho do libertar-se a cada momento. Eu me liberto dos medos e ilusões a cada passo que dou vinculado na consciência de mim mesmo com todas as conexões que inexoravelmente trago de tantos e tantos caminhos percorridos. Eu sou a força do mar, a fúria do vento, a brandura do pássaro voando no ar, a insinuante presença do peixe nas profundezas das águas do oceano, o calor que brilha no sol, o olhar do felino que define seu alvo para sobreviver, a sorrateira presença do réptil que se desliza junto à sua leveza firme, a respiração que a longos haustos inspira e expira o dentro e o fora, a magia da terra que desabrocha a partir de si toda a semente que sempre se renova, as raízes que no subterrâneo se entrelaçam para se fixarem melhor e fortemente, escolhas que me direcionam caminhos adentro rumo ao necessário aprendizado que é requerido para a evolução, para a transformação do chumbo em ouro.
Eu sou a capacidade de assumir sair do velho, do pretensamente acomodado, e que adentrando-me no novo, resgato o quê de repouso tornar-se -á movimento e que de estagnado transformar-se-á no renovar-se de mim mesmo e do outro.
Eu sou único nesta inteireza ímpar e perfeita porque eu sou originário da Fonte Divina. Eu sou único dentro do multiplicar-se dos outros que se somam à minha presença, enquanto que eu me expando aos outros nos quais também eu sou.
Eu sou o conhecimento do pleno que vive em mim. Eu sou a sabedoria que a mim é direcionada perene e eternamente. Eu sou luz que de tão intensa perdura e emana-se adiante sempre.
Eu sou o crescimento do impulso do integrar-se. Eu sou união. Eu acredito na força do ser na ausculta do silêncio que habita a inquietude.
Eu sou a música das esferas que ressoa vibrante por entre todos os entes dos universos transportando toda a vida que Eu Sou.
Eu Sou Amor.


Ana Maria Silva
Médica - CRMSP 60182

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quinta-feira, 15 de novembro de 2018

O esconderijo do amor


Escrever sobre o amor em tempos de cólera é uma tarefa que o adjetivo simples não pode ser usado para descrever. Fernando Pessoa, Clarice Lispector, Tom Jobim jamais teriam imaginado que o tema de seus poemas, livros e letras seria tão sufocado em tempos modernos.

Sentada no deck do Centro Paulus, cercada pelo resistente verde da Mata Atlântica, no extremo sul da cidade de São Paulo, o vento sopra e uma leve chuva amarela cai sobre mim. São as flores da sibipiruna que chamam a minha atenção, desviando o meu pensamento do assunto que me permeia neste momento: criar um texto.

Diante de tanta aridez no uso das palavras escritas ou faladas, comecei a procurar onde teria se escondido essa palavra formada apenas com quatro letras, profunda e genuína em seu significado e expressão, mas tão maltratada nos últimos tempos.

Comecei fazendo uma pequena retrospectiva biográfica, passeando pelos meus setênios, relembrando encontros e vivências. Quando foi que reconheci este sentimento em mim pela primeira vez? Diversos momentos foram relembrados. O calor da casa paterna, a primeira professora, as paixonites de adolescência, as companheiras de quatro patas, as amizades que conquistei, os livros que me fizeram sonhar. Todas essas lembranças aqueceram o meu coração, reconheci o amor em cada uma delas, mas duas lembranças me fizeram sorrir de uma maneira especial e aqueceram a minha alma. Os nascimentos de meus filhos, Camilla e Tiago, foram para mim os marcos mais importantes em relação ao amor. Porém, é óbvio demais escrever sobre o amor materno, pensei, nem todas as pessoas se identificam com esse tipo de amor por terem escolhas de vida diferentes, é melhor ampliar meu campo de pesquisa e buscar algo mais universal, disse a mim mesma.
 Abri o computador, digitei as quatro letras e milhares de opções surgiram à minha frente. Para ser mais exata, foram 1.030.000.000 de opções. Surpreendente, mas qual a qualidade desses resultados?

 As primeiras opções estavam relacionadas à casos amorosos de famosos do momento. Nosso querido Vinícius de Moraes já havia dito que seja eterno enquanto dure, mas preferi deixar esses amores fugazes de lado e busquei mais emoção e durabilidade.  É fácil perder a cabeça e o foco na busca pelo amor na profusão de páginas que se apresentam sobre o assunto. Letras de música, títulos de filmes, igrejas, ofertas de produtos, palavras de ordem (mais amor por favor), trabalhos de mestrado, páginas de encontros virtuais, etc. Em cada uma das páginas visitadas lê-se a palavra, mas é difícil reconhecer o sentimento. Ele não está lá. Resolvi dar um passeio pelas músicas. É fogo que arde sem se ver, que mexe com minha cabeça e me deixa assim e que, quando falta, é avião sem asa, fogueira sem brasa, futebol sem bola ou Piu-Piu sem Frajola. Cada melodia uma emoção, cada poesia uma forma delicada de expressar com palavras aquilo que se sente no coração. 


Continuei pesquisando e senti um frio. Comecei a ter a sensação de que o sentimento estava desgastado. Eu estava buscando lógica para escrever sobre um sentimento? Algumas páginas apresentaram o amor como moeda de troca e alguns estudos buscam comprovar que este sentimento é uma construção social ao longo da história a serviço das posses, do poder, do controle, etc. Seco demais, pensei, nem tudo tem que ser selado, registrado, carimbado, avaliado, rotulado como cantava Raul Seixas.
Parei de pesquisar e comecei a observar.

Eliana acaba de se tornar avó. Com um sorriso que aquece os que estão ao seu redor, exibe numa tela de celular, as bochechas rosadas de seu neto. Vanessa, imersa num curso de autoconhecimento, envia uma mensagem de apoio ao seu filho que irá participar de uma competição de judô. Um grupo de pessoas se organiza pela internet para um mutirão de limpeza do recém plantado largo das Araucárias, nas proximidades do Largo da Batata. Tiago atravessa a cidade por duas horas para abraçar e beijar sua namorada. Camilla está em uma foto envolvida pelo terno olhar de Raphael. Luciana sai de seu apartamento e oferece um prato de comida para o senhor que dorme na rua em frente ao seu prédio. Deborah trança os cabelos de seu amigo e decora com uma pequena flor. Um grupo de formação em Aconselhamento Biográfico é acometido por uma virose e o cuidado de cada um, consigo e com os demais, cria um ambiente de pura expressão amorosa. O amor é múltiplo na forma de expressão, pode ser, solidariedade, companheirismo, vínculo, afeto, compaixão ou um simples abraço.

Alguém em algum lugar recebe uma chuva de flores amarelas e reconhece que, mesmo em tempos de cólera, o amor não se esconde, está em todos os lugares, vivo, pulsante e pode ser sentido em cada pequeno gesto de atenção, carinho e zelo que nos rondam a todo o instante.

Sylvia Beatrix Pereira
Aconselhadora Biográfica


quinta-feira, 8 de novembro de 2018

A gênese do amor

Falar sobre o amor não é tarefa fácil, até porque é um sentimento que efetivamente não sei se já nasceu dentro de mim. O que é o amor? Como buscar um significado para esta palavra em princípio tão abstrata. Para tentar chegar à gênese do amor fui buscar amparo nos poetas, nos filósofos, nas religiões, sociólogos sem deixar de me lembrar das pessoas de natureza humilde, distantes da academia, que encontrei ao longo da minha vida e que me comoveram com a profundidade de seus conceitos. Nesse contexto posso me arriscar a dizer que para mim, o amor é um sentimento que, mesmo sem saber definir, sei o que é. Mas como explicar isso? “O amor não se define, o amor se vive”, dizem alguns. Sim, pode ser. Mas como vivo algo que não sei o que é? E me pergunto de onde ele vem? Onde ele nasce se vive em nós? Como podemos ter a percepção do que é o amor se tantas são as definições? Ou se vivemos esse sentimento, como não conseguimos defini-lo com precisão? Por que em cada época da humanidade o “amor” pode ser conceituado de forma que atenda às percepções daquela sociedade, se é algo que está intrinsecamente em nós?

Socorrendo-me do poeta Carlos Drummond de Andrade, aproveitando a data do seu natalício (31/10), trago os versos do poema As Sem-Razões do Amor:” Eu te amo porque te amo. Não precisas ser amante, e nem sempre sabes sê-lo. Eu te amo porque te amo. Amor é estado de graça e com amor não se paga. Amor é dado de graça, é semeado no vento, na cachoeira, no eclipse. Amor foge a dicionários e a regulamentos vários. Eu te amo porque não amo bastante ou de mais a mim. Porque amor não se troca, não se conjuga nem se ama. Porque amor é amor a nada, feliz e forte em si mesmo. Amor é primo da morte, e da morte vencedor, por mais que o matem (e matam) a cada instante de amor.”
Inspirada por esse poema, e especialmente nos versos “o amor é estado de graça ... amor é dado de graça...” fui buscar na Antroposofia, o pensamento de Rudolf Steiner, o que por si só não é um caminho muito tranquilo. Como vem fazendo desde o meu primeiro contato com seus textos, Steiner tem descontruído muitas das minhas crenças sobre os poderes de Deus. Diz Steiner, in O amor e seu Significado no Mundo: “Deus é amor puro, amor sincero e não sabedoria e poder supremos”. Sendo Deus o Amor, este impulso flui para a humanidade pronto, como uma dádiva e nós, seres humanos, podemos capturar esse impulso de forma gradativa. Assim, amor é o fundamento de tudo o que vive, por essa razão sinto que o Amor é, ainda que não consiga traduzir em palavras o seu real significado. Amor é, portanto, esse impulso que se encontra à disposição do ser humano para ser experimentado, vivenciado quando este desejar caminhar as trilhas do aperfeiçoamento espiritual.

Um outro aspecto do amor, na visão do pai da Antroposofia que reverberou fortemente em mim é que o amor “não desperta esperanças para o futuro, e sim liquida as dívidas do passado”, e só quem compreende o amor dessa maneira é um cristão, ou seja, compreende o que significou o Mistério do Gólgota, que é um assunto dos deuses, que estes nos permitiram assistir. Nossa, a partir daqui meu mundo se colocou de cabeça para baixo! E prossegue Steiner: “Este é o único ato terreno totalmente suprassensível; portanto, não se deve estranhar se os que não creem no suprassensível não creem de forma alguma no ato do Cristo”. Foi nesse momento, quando se abre esse portal, permitindo ao homem assistir a um ato divino que chegou o amor ao mundo, através desse impulso crístico. A Antroposofia traz para o conhecimento humano a jornada do homem em sua chegada na Terra, isto é, como ser espiritual, foi adensando sua forma física, até que em determinado momento os deuses que participavam dessa jornada, num encontro com Lúcifer, entregaram a este a sua onipotência. Esse ato possibilitaria ao homem ser livre. Nesse encontro, nesse momento o homem entra na matéria mais que estava programado, distanciando-se dos deuses que estavam em ascensão. Por esta razão, num conselho de deuses, Cristo se disponibiliza a recuperar os homens. Resumidamente este, para quem acredita minimamente no suprassensível, no metafísico, é o maior ato de Amor. E por esta razão, no meu humilde entender, podemos de todas as formas tentar buscar o significado da palavra amor, e só conseguiremos tangenciá-lo se percebermos que “surge o amor por algo que está dentro de nós mesmos”.

Finalizando, obviamente com Drummond, deixo novas perguntas:
   “Que pode uma criatura senão, entre criaturas, amar? amar e esquecer, amar e malamar, amar, desamar, amar? sempre, e até de olhos vidrados, amar?   Que pode, pergunto, o ser amoroso, sozinho, em rotação universal, senão rodar também, e amar? amar o que o mar traz à praia, o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha, é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?   Amar solenemente as palmas do deserto, o que é entrega ou adoração expectante, e amar o inóspito, o cru,
um vaso sem flor, um chão de ferro, e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina. Este o nosso destino: amor sem conta, distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas, doação ilimitada a uma completa ingratidão, e na concha vazia do amor a procura medrosa, paciente, de mais e mais amor. Amar a nossa falta mesma de amor,
e na secura nossa amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.” (Amar)

Tereza Racy
É jornalista, mãe de ex aluna waldorf  e membro do Conselho deliberativo da Escola Waldorf Francisco de Assis 

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Possibilidades...e Identidade(s)


Bem vindo (a)! Nascer para a vida, uma abertura de sentidos, ruídos, emoções e imagens entre muitos e muitos registros. Os gestos são espontâneos, alta expectativa do entorno, nada será como antes, turbilhão de informações e sentimentos que envolvem o chegar no mundo.
Por volta dos 03 anos, a percepção do EU, uma fase de Egocentrismo e da mobilidade do Corpo Físico, alguns passos e logo chega as outras relações na Escola, novas conexões a troca de informações e mais uma etapa se faz em direção ao 3º setênio, um outro nascimento que se faz com grande intensidade de valores, uma vez que se apresenta à Identidade, recheada de opiniões, críticas, rejeições e afinidades para contextualizar ou transformar o Mundo e as relações.
Nesta fase, ocorrem várias alterações físicas, na voz, nos membros, nos hormônios tão subitamente, assim como instabilidades internas, provocando uma revolução/ ebulição onde o jovem ancora seu processo de individuação, de forma contraditória, uma vez que os instintos, ideais, interesses e sentimentos vem à tona caracterizados através de imagens, aspirações para agir na vida prática e se apresentam em forma de crise ou de aspiração social/ideais.
A meta não é clara, no entanto, através do confronto com a auto realização do “Self” (de si mesmo), ocorre um desabrochar de intenções que  leva o jovem para  a realização de um centramento e escolhas em direção ao caminho de individuação colocando suas intenções, ousadias e pegadas em cada ação.
Desta forma, as possibilidades e contradições surgem, e os passos são dados em direção ao labirinto de desafios e encontros...percorrendo mais um ciclo e aprendendo a se desenvolver dia após dia, indo para o Mundo e voltando para si.

Amadurecer significa decidir-me entre
Aguentar e fugir,
Prender e soltar,
E aprender
Quando o quê é adequado.
Só assim
Não irei me desgastar
Nem exigir menos de mim.
Assim permaneço desperto
Entre contração e distenção
Ulrich Schaffer – Poemas Meditativos – Crescer e Amadurecer

Alessandra Castro de Paula

Psicóloga, arteterapeuta e facilitadora de Constelações Sistêmicas

Tema de Reflexão do Mês

Escolhemos um tema como base de reflexão que será iluminado por profissionais de diversas áreas segundo seu olhar e suas vivências. Colaborações e comentários são bem vindos!

Iniciativas Antroposóficas na ZN

Escola Waldorf Franscisco de Assis (11) 22310152 (11) 22317276 www.facebook.com/EscolaWaldorfFransciscoDeAssis

Projeto Médico Pedagógico e Social Sol Violeta (PMPSSV)

Casa da Antroposofia ZN Rua Guajurus, 222 Jardim São Paulo (11) 35699600