quinta-feira, 10 de setembro de 2020

CORAGEM E BRAVURA

 


A palavra CORAGEM vem do latim, CORATICUM. 'Cor' significa coração e 'aticum' significa ação. Portanto, numa tradução literal, coragem significa "ação do coração".

Ponderar, do latim 'ponderare', é pesar, atribuir peso até equacionar as medidas, equilibrando-as. 

Assim, não é o espírito que deve estar a serviço do coração. Mas o contrário. É o coração que deve estar a serviço do Espírito.

Se colocarmos nosso espírito a serviço do nosso coração, podemos incorrer em erros, enganos, cegueira emocional. O mesmo ocorre se colocarmos nossa vontade à serviço do coração. 

Mas se ao contrário, colocarmos o nosso coração a serviço de nosso espírito ou força espiritual, teremos firmeza de espírito diante de uma situação difícil. Podemos depositar amor aos nossos pensamentos e ideias, deixando que esse amor seja ao mesmo tempo direcionado por um espírito guiado por sabedoria, o mesmo ocorrendo com a nossa vontade, que deve ser disciplinada e ponderada  pelo espírito ao receber a coragem do coração.

Amor e coragem. Dois sentimentos genuinamente gerados do coração, mas que não se confundem com o coração, que é instrumento, logo não são  sinônimos. Pois o mesmo coração que gera amor e coragem, também gera o ódio e o medo.

Tudo o que gera, vive por si mesmo, em plena potência. É potência em si. E tudo que é potência nasceu para continuar gerando, doando e servindo. Por isso o coração está no meio. Para doar-se e servir ao espírito e à vontade. É potência e tudo que é imanente, dá, doa e gera abundantemente. O que nosso coração  tem gerado abundantemente ao nosso espírito e vontade nesses tempos difíceis? 

O coração não manda. O coração serve. Onde o coração mandar, é porque deixou de servir. E um coração que não sirva aos outros, perde sua potência e seu sentido de existir. Um coração só deixa de servir, quando deixa de bater. 

Um bom líder não manda com o coração. Mas serve com o coração e lidera com o espírito ponderado, aquecido no amor e na coragem de fazer e realizar o que é preciso. 

Coragem é a ação do coração que não manda, nem ordena, mas transforma-se em energia, que é recebida e direcionada pelo Espírito. E um Espírito pleno de amor e coragem sabe o que fazer.

Já a palavra "bravura" vem do latim 'barbrus', de bárbaro. Barbárie é algo ocasiado por selvageria, ausência de razão ou direção espiritual, força irracional ou não ponderada pelo Espírito.

Bravura vem do corpo, é força física, que prescinde da direção do Espírito.

Quando você toma coragem é  porque você já se convenceu em espírito e coração, que precisa fazer algo. A coragem, energia do coração, 'ativou' o espírito a raciocinar, ponderar e a direcionar sua vondade. E um espírito elevado em amor e coragem torna-se o Espírito que verdadeiramente conduz e direciona sabiamente a vontade.

 

IRA E ÓDIO

 

A irá é pontual. Ela vem e vai rápido e dura apenas o necessário.

O ódio permanece, ocupa tempo e espaço. É alimentado.

A ira é potência. Ela destrói para transformar, é ativa. O ódio é impotência. Ele se alimenta da impotência diante de algo, que ele julga precisar ser transformado, mas não possui a coragem ou a capacidade para o fazer.

A ira é sempre impetuosa, mas corajosa, requer coragem. O ódio é sempre silencioso e covarde. E sendo covarde, apoia-se no medo.

A imagem de um anjo  empunhando uma lança é um chamado contra a covardia do ódio, da intolerância e do medo que o ódio impõe. 

A ira pode ser dos anjos, daqueles que se elevam para harmonizar ou equacionar as forças, não no grau racional dos homens, mas em potência ou consciência ativa. Porém, não o ódio. 

O ódio é sempre dos anjos caídos, amedrontados, sem consciência e acovardados, que passam anos alimentando sua impotência, envenenando almas através do medo e  atuando na sombra da sua covardia.

Nunca a coragem ou "cor actus", a ação do coração, foi tão necessária como antídoto ao ódio, quanto agora, nesses tempos sombrios que estamos vivendo. 

O mundo sempre nos exigiu coragem e de vez em quando alguma ira. Mas  desconfie de quem só dissemina medo ou o seu ódio e intolerância, amparados na sua eterna impotência cognitiva e espiritual de transformar as coisas.

 

 A ESPADA E A BALANÇA

 

Na Idade Média 90% da população no mundo todo  não sabia ler ou escrever. No início do século XX esse índice ainda era de 70%. Um índice altíssimo, mesmo passados cinco séculos. 

Imaginemos um mundo onde a maioria da população não domina a leitura e a escrita. Como ensinar valores morais ou espirituais? Muitas vezes a palavra oral falhava; as pessoas, sem instrução, não compreendiam muitas palavras, que não eram do seu uso ou domínio no dia a dia.

Por isso a religião recorreu às imagens. Era mais do que uma suposta idolatria ou valorização da Arte como forma de lapidar as almas. Era também um modo de dizer. Daí tanta pintura sacra, representando santos e suas virtudes, especialmente numa igreja, cujas missas eram rezadas em latim, uma língua morta em meio a diferentes línguas, dialetos e idiomas e que só deixaram de ser rezadas em latim em 1960. 

Como representar então a coragem e a justiça, sem o uso das palavras? 

Para a coragem, a imagem da espada. Para a justiça a imagem da balança. Assim que toda uma iconologia ou iconoclastia foi criada pelas religiões mas, na medida em que as pessoas foram se letrando, sofisticando o pensamento por meio da aquisição da leitura e da escrita, essas imagens perderam seu sentido latente.

Hoje nosso grande desafio é transformar essas imagens em consciência ativa, com presença e força de Espirito, aquecidas por um coração amoroso e que disciplinem nossa vontade para um atuar pleno de sentido humano. 

Débora Martins

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