Estamos bem próximos de uma grande e alegre festa: São
João.
Todos aqueles envolvidos numa comunidade aguardam o mês
de junho, época em que as estrelas possam ser lidas no véu celestial devida a
limpidez da nossa abóboda; quando a fogueira lança da terra para o céu o sinal,
a religação do homem. Época em que o silêncio feito em cada um de nós busca
transformar percepções da paisagem exterior e interior num panorama
imaginativo, rico em alcance do outro; atravessamos savanas, passamos pelo
deserto, encontramos a solidão e nela o silêncio reina como um emblema iniciático
do encontro consigo próprio.
A palavra ganha um potencial de recolhimento e expressão
gestual do movimento espiritual atuante no homem que assim busca no caminho
interior a egrégora crística para devagar anunciar ao mundo seus passos,
apagando a heresia da euforia deixando a serena alegria permanecer aquecendo a
alma, assim como a fogueira aquece os encontros.
Todo movimento humano expressa uma qualidade plástica e
outra musical; as forças do passado se encontram com as forças do futuro. Eis
um encontro espiritual também vivido por João Batista e seu povo com Cristo,
quando na travessia de regiões inóspitas cantavam e dançavam, exalando a
qualidade astral e abrindo caminho para o lastro das pegadas indiciando o
rastro do movimento ali vivido.
A qualidade plástica do movimento ao ser rastreado e
desenvolvido gera um estado estruturante e revitalizante.
Podemos aproveitar os passos de João Batista, o
significado crístico da festa para desenvolver uma compreensão pedagógica da
atuação do movimento humano.
As crianças quando chegam no 2º setênio se preparam para
a vida escolar. Uma das maneiras mais revigorantes e sanadoras para esse
preparo é o ato de desenhar formas. O desenho de retas e curvas em sua
composição gera a expressão do rastro do movimento, ou seja uma amostra de como
o repouso proveio do movimento.
A ação do desenho possui qualidade plástico pictórica e
apela as forças formativas que trabalharam no organismo humano, forças etéricas
expansivas durante o 1º setênio, mas também as forças musicais agindo a
organizar e vivificar a lei orgânica.
A atuação do desenho de formas se caracteriza pelo traço,
expressão contínua do mover-se. Cada ser humano tem sua própria maneira de
traçar. O traço se harmoniza e torna linguagem por meio da repetição.
O professor conduz esse trabalho e quando o faz promove a
mobilidade interior de suas crianças, isso provoca uma vida cognitiva futura
consequente e elaborada de modo maleável e vivaz.
“Tudo que é pictórico que o corpo etérico recebeu em
estado de vigília, tende a continuar durante o sono e aperfeiçoar-se.
Estimulando e fortalecendo o corpo etérico, este atuará sobre a organização do
corpo físico”. (Steiner, 1923)
O desenho
artístico toca a maleabilidade da alma proporcionando uma intensa riqueza de
imagens. Esta prática possibilita uma bela metamorfose de ideias, a vida ganha
outro tom.
A observação leva ao exercício da imitação e a repetição
faz descobrir algo novo, assim mais criativo e o artista será quem se propor a
tal exercício.
Assim o professor terá como tarefa transformar todos
movimentos mecânicos, desprovidos de alma naquilo que é verdadeiramente humano.
Todo professor que lida com a arte sabe que as
habilidades artísticas diminuem nas crianças quando o intelecto se desenvolve.
Na escola waldorf o professor deve desenvolver nas crianças o sentimento pelas
formas, a fim de que a criatividade vença o intelectualismo precoce.
Quando desenhamos exercícios de simetria com a criança,
na qual ela deve desenhar a correspondência, são continuamente ativadas as forças
do equilíbrio por meio das quais a criança atingiu a verticalidade, forças que
ela desenvolveu ao aprender a andar. É necessário repetir, mas nunca de maneira
rígida para que o efeito seja realmente sanador e atuante em direção ao futuro
a partir das forças vivas estruturais vindas do passado, como é o caso do nosso
corpo físico.
Desenhar formas é salutogênico é curativo e terapêutico
além de trazer alegria e criatividade, renovando a cada dia as forças vitais.
Filippo
Brunellechi construtor da catedral de Florença, já na renascença captou a
imagem das formas de modo divino quando afirmou: “As linhas são sinais visíveis
do gesto de Deus”.
Podemos usar essa
afirmação de Brunelleschi para que o exercício do traçado possibilite a
abertura da percepção para o movimento corpóreo, mas também para o movimento
dos pensamentos e nessa festa junina podemos contemplar a imagem de Cristo
através do gesto de João, então a busca pelo conhecimento não será em vão e sim
dotado de um princípio enaltecedor para a grandeza espiritual humana que todos
almejam alcançar um dia.
Kátia Galdi
Nenhum comentário:
Postar um comentário