Esta luta entre o bem e o
mal, luz e trevas, existe desde os princípios da humanidade, mas ela existe
principalmente dentro do próprio homem, dentro de cada um de nós.
O homem que busca a verdade
precisa travar muitas lutas consigo próprio e é a partir daí que surge a
superação, a luz. E porque vivemos numa época materialista e difícil, Micael
nos traz uma nova perspectiva de guerreiro, a consciência.
Ter consciência e presença. Precisamos
saber exatamente contra quem estamos lutando, com que armas e para quê. E é assim, através dessa imagem de coragem e
de fé e do agir consciente, que podemos buscar a transformação.
Seria inocente pensar só no
mal puro e simples que alguém pode oferecer. O mal tem várias facetas. Os
dragões estão em toda parte, dentro e fora do homem. Estão nas relações
competitivas, na falta de tempo, nas discriminações sociais e raciais, no
dinheiro que compra tudo, nas máquinas, nos agrotóxicos... Em tudo que torna o
homem um ser pequeno e sem vontade própria. Sem falar no que temos dentro de
nós, o egoísmo, a vaidade, o orgulho, a ganância, covardia, hipocrisia... E
tudo mais que desqualifica a alma humana.
Lutar contra esses dragões é
a sina do homem moderno.
Importante notar que não
matamos o dragão, mas o dominamos. Em todas as histórias é o que se mostra. Mas
isso é obvio! Porque não podemos aniquilar os problemas, mas sim afastá-los,
resolvê-los, mas não posso fingir que não existem. É preciso dominá-lo,
subjugá-lo a nossa própria vontade. O dragão deve ser colocado aos meus pés,
sob meu domínio. O homem é um ser possuidor de vontade e quando souber fazer
uso dela é que poderá crescer espiritualmente.
Assim, as histórias que
trazemos para as crianças nesta época têm mais a dizer aos adultos que precisam
reaprender a ter coragem e fé nos desígnios celestes. As crianças percebem de
pronto a imagem do príncipe que não é orgulhoso e se coloca por vontade própria
a ajudar, mas que pede ajuda celestial. A princesa representa a fragilidade que
inspira a coragem. As imagens são claras e ensinam. Só quando o homem imbuído
de força de vontade, que tem como objetivo uma causa justa, e que ergue seus
pensamentos a Deus, é que dos mundos espirituais recebe forças necessárias para
empreender a luta. E Micael é o representante dessas forças.
Para as crianças tudo vem com
imagem e brincadeira, e chega a elas pelas vivências e histórias, a coragem e a
fé, que são dois sentimentos necessários para cada um cumprir seu destino. Esse
conteúdo dá força para enfrentarem o mundo presente e faz crer que as respostas
existem em algum lugar, pois é certo que nós adultos não temos a resposta pra
tudo. Isso dá à criança a noção de grandeza e sabedoria em tudo que diz
respeito ao homem. Cultivando essa coragem e confiança é que colheremos os melhores
frutos no futuro.
E nós, adultos, devemos
fazer as perguntas que nos levam ao domínio que almejamos, aquele que devemos
vencer em nós para que possamos ser conscientes dos nossos atos e senhores de
nós mesmos sem medo. É a nossa busca. É o dragão que vencemos em nós. Vencemos
o dragão da preguiça, do pensar difícil, do medo do desconhecido, da falta de
serenidade. Será a espada da consciência que nos ajudará a vencer. A achar
força para controlar a situação e buscar o melhor caminho. Será a capacidade de
agir conscientemente na hora certa.
Cada um de nós é chamado a
participar na luta para a dignidade humana, na luta do humano contra o
sub-humano.
Devemos, assim, iluminar
pelas forças do pensar, tudo que há de escuro em nós. Não deixarmos nos enganar
pelas situações e por aqueles que querem o nosso mal, mas sim sermos senhores
de nossos próprios destinos.
Carla Guedes – Professora de
Classe da Escola Waldorf Francisco de Assis