Esse texto é baseado no
texto da médica antroposófica Dra. Ana Paula I.Cury denominado “Sobre ser pai e
mãe no século XXI”, o qual trata desse assunto de uma maneira ampla, mas vou tentar pontuar
algumas considerações que considero pertinentes para a nossa época.
Exercer a paternidade e a
maternidade nos dias atuais é um desafio, pois estamos diante de muita
tecnologia, muita teoria disponível na internet de como criar filhos, como
também com pais e mães preocupados com suas carreiras, diante de um mundo cada
vez mais competitivo, que exige mais e mais estudo, e no meio disso tudo a
criação dos filhos.
A constante ausência dos
pais durante o dia, e quando chegam em casa à noite do trabalho, ou da pós –
graduação, eles estão cansados e muitas vezes estressados, que querem somente
comer algo, assistir televisão e dormir, para no dia seguinte seguirem com a
mesma rotina. Quando chega o final de semana o cansaço continua e muitos pais
vão ao futebol ou bar com amigos dizendo que irão “desestressar” e mães vão
fazer supermercado e cuidar de afazeres domésticos, podemos concluir que esses
filhos estão com seu pai ou mãe ausentes por um longo tempo.
A situação acima descrita da
ausência em momentos importantes na vida dos filhos e na sua criação gera nos
pais e mães uma culpa, que no mundo de hoje essa culpa se compensa dando para
as crianças brinquedos cada vez mais tecnológicos, por exemplo, celulares e
tabletes com muitos recursos, que impedem o poder da imaginação, o fantasiar e
enfraquece a vontade do agir nas crianças.
Temos também pais e mães que
preenchem a vida diária das crianças com tantos afazeres, como inglês, natação,
aulas particulares de diversas áreas, música, etc.., com o intuito de que ele
se torne adultos bem preparados para esse mundo competitivo,
assim a criança também tem uma rotina puxada, onde o tempo para brincar é muito
pequeno, e os pais acham que com isso estão exercendo seus papéis, que são de
provedores das necessidades dos filhos, que no mundo atual é muito complexo,
bem como provedores de educação e com isso o pai e a mãe estão amando seus
filhos.
Ou então delegam essa tarefa
a outros, estranhos a família, ou à TV, ou à Internet.
Podemos dizer que temos
também como consequência da situação de culpa acima citada, pais e mães não
querem dizer o famoso “não”, nas horas em que existe essa necessidade, com medo
de gerar um desamor por parte dos filhos.
Sérgio Sinay em seu
livro - Sociedade dos filhos Órfãos - ,
nos diz “Um equivocado sentido de amor os leva a temer que o exercício das
funções parentais em seus aspectos menos fáceis e demagógicos possa ter como
consequência o desamor dos filhos. Há uma nefasta confusão ente paternidade e
amizade, e esta desaba sobre os filhos na figura de um amigo ou amiga
anacrônicos e disfuncionais, enquanto gera um vazio no tão necessário espaço parental.”
Mas, é possível criar os
filhos de uma maneira salutar, apesar das rotinas exigentes vividas por pais e
mães, de uma maneira diferente?
Os filhos escolhem seus pais
antes do nascimento, bem como o seu lar, para seu melhor desenvolvimento e
execução de sua tarefa reencarnatória, por isso o exercício da maternidade e
paternidade deve ser feito de modo consciente e acima de tudo sagrado.
Nos dias atuais é muito
importante a consciência desta tarefa, pois o filho vem para o pai e mãe, como
dizem popularmente, sem um manual de instrução, cabe ao pai e mãe desenvolvê-lo
no seu caminho, para que ele chegue ao lugar a que ele está destinado, com o
melhor do seu potencial.
Por isso a tarefa de criar
filhos necessita cuidados, presença, atenção e principalmente dedicação e devem
ser exercidas conjuntamente com a vida prática diária.
Muitos pais e mães sem que
se apercebam estão ligados no piloto automático na execução de tarefas do
cotidiano externo, mas se quiserem exercer a tarefa de criar seus filhos de
maneira presente eles devem colocar toda a sua atenção e consciência na vida em
família.
A partir dessa atenção
consciente, pais e mães procuram desenvolver autoconhecimento, nos momentos em
que olham para dentro de si, e percebem pontos fracos e fortes da sua
personalidade, e a partir dessa percepção suas escolhas serão mais coerentes,
com seu modo de pensar, sentir e agir, e o filho saberá que tem pais e mães
autênticos, o que trará segurança para a sua vida, e com isso ele terá um
ambiente saudável para seu desenvolvimento, citando Ana Paula Cury,
“Para colocarmos essa atenção consciente em nosso relacionamento com nossos
filhos, é bom saber algo sobre ela: Essa atenção significa uma consciência
permanente desprovida de crítica. É algo que desenvolvemos cultivando a
capacidade de nos concentrar, intencionalmente, no momento presente, e manter
essa concentração da melhor forma possível.
Em geral, vivemos a maior
parte do tempo ligados no piloto automático, sem dar importância a muitas coisas
importantes ou deixando-as passar
totalmente despercebidas, e julgando tudo o que experimentamos a partir de
opiniões apressadas e muitas vezes não ponderadas, baseadas no que gostamos ou
deixamos de gostar, no que queremos ou deixamos de querer.
A atenção consciente nos
oferece um meio para nos concentrarmos no que quer que estejamos fazendo a cada
momento, e com isso, enxergarmos uma realidade mais profunda por trás do véu de
nossos gestos e pensamentos automáticos.”
A partir desse autoconhecimento
o pai e a mãe não terão mais o medo de dizer o “não”, o filho saberá que essa
fala é coerente com o modo de pensar, sentir e agir deles, e por trás desse
“não” o filho perceberá o cuidado, o carinho, presença e a atenção de seu pai e
mãe.
O mundo de hoje é exigente
para todos, ser pai e mãe é um desafio cada vez maior, mas se todos nós nos
propusermos a cumprir essa tarefa, principalmente com amor, que nos momentos em
que estamos com nossos filhos focarmos na qualidade da presença, isto é, dando
atenção consciente, brincando junto, quando o filho ainda é uma criança pequena, mostrando como o mundo é belo para o
filho, na fase do segundo setênio, e conversando e permitindo que o filho
adolescente a nos oponha, para que ele encontre sua própria forma de pensar.
Devemos estar sempre atentos
conosco para que nossa atitude sempre seja coerente, que sempre esteja de
acordo com uma moral e uma ética em favor do bem para todos, educamos sempre a
partir do nosso exemplo, por isso a qualidade da presença, para que o exemplo
não venha de fora do lar, ou da TV ou da Internet.
Temos que erradicar da alma
a preguiça, exercendo a vontade, o agir, devemos ir às reuniões da escola, na
apresentação dos trabalhos, sempre incentivando os filhos a irem em frente.
Quando comprarmos um
brinquedo para os nossos filhos, devemos estar atentos se ele está de acordo
com a idade dos nossos deles, se eles acrescentam algo para seu desenvolvimento,
se for um jogo, tire uma tarde para jogar com eles, pode ser um momento de
interação, prazer e conhecimento mútuos.
Se for necessário trabalharmos
demais para prover economicamente a família, não nos deixemos ser permeado pela
culpa da ausência, o que temos que fazer em qualquer
momento de folga, ao invés de nos jogarmos no sofá, devemos estar disponíveis, para
dedicar esse tempo para os filhos, é a nossa tarefa sagrada.
Essas pequenas atitudes
demonstram o nosso amor em fazer o melhor possível na condução da tarefa de
criar os nossos filhos e não há garantias nos resultados desse processo, mas é através
da atenção consciente nessa tarefa que vai nos capacitar para estarmos sempre
presentes e agirmos com sabedoria.
Por fim, como bem dito por
Ana Paula Cury, no seu texto mencionado no início: “ Trata-se de uma jornada na qual
queremos converter-nos de meros progenitores ( pais biológicos) em pais no mais
verdadeiro sentido da função, que hoje, é em si, supranatural. Isto é, já não
pode alicerçar-se em uma base natural instintiva, mas requer conhecimento, ou
melhor, autoconhecimento, e um esforço interior de aprimoramento a serviço da
realização das potencialidades do ser que nos é confiado como filho. Em outras
palavras, um processo que requer consciência, compromisso, responsabilidade e
amor. Sim, pois ser pai, ser mãe não é um hobby ou uma atividade para as horas
livres. Mas um empreendimento de tempo integral com tarefas que exigem tempo,
consomem energia, requerem presença.”
RITA
PAULA WEY NUNES DA COSTA