Quem
não sabe introduzir a sua vontade nas coisas,
introduz nelas pelo menos um
'sentido': quer dizer,
acredita que existe já ali dentro uma vontade (princípio
da 'fé').
F.
Nietzsche
Na abordagem do
desenvolvimento humano, pelo prisma antroposófico, três âmbitos são enfatizados
para que, em equilíbrio (dinâmico), sustentem a saúde do ser humano.
Pensar, sentir e querer são
os aspectos que paulatinamente vamos desenvolvendo em cada um dos três primeiros
setênios e, pela vida afora, vamos (ou deveríamos ir!) lapidando.
Na jornada do
desenvolvimento desses três aspectos, o querer é a primeira a merecer nossa
dedicação.
A vontade que pode nascer
como capricho pode se tornar uma aspiração. Como conduzir esse processo?
Ali no primeiro setênio da
nossa existência, em que vamos nos deparando com o mundo, estamos cheios de
vontade para explorar nossos sentidos e o que nos rodeia. Somos despertados
pelo movimento das nossas mãos e depois descobrimos o que podemos fazer com
elas!
E não é de surpreender que a
criança no primeiro setênio, no processo de aprendizagem por imitação,
"julga o adulto pelo que ele é capaz de fazer, e não pelo que sabe
intelectualmente.[1]"
A importância dessa fase da
vida se revela por muitos motivos e por isso mesmo nos permite explorá-la em
tantas direções.
No descobrimento de nossas
mãos e na percepção do que o adulto faz, podemos nos deparar com o impulso da
vontade despertando e nos movendo em direção ao que queremos.
E, com tantos estímulos ao
redor, naturais ou provocados, a criança nessa época se move principalmente
pelo querer, pela vontade. E ela quer tudo! E isso mostra o interesse pelo
mundo, pelas pessoas, pelo alimento e coisa e tal. Até que na ânsia desse
querer, sem o devido limite, ela se excede e começa a perturbar o próprio desenvolvimento.
Daí a necessidade de educar
o querer da criança.
A força ativa de seus
membros é mobilizada pela sua vontade, e as atividades que envolvam movimentos
como rasgar papéis, subir em árvores, por exemplo, são vivências educativas da
vontade.
O mesmo impulso para lidar
com suas atividades lúdicas demonstra a força com que enfrentará suas
dificuldades no decorrer da sua existência.
Sua vontade não é consciente
nesta etapa da vida e não deve ser impregnada de conceitos teóricos. E como a
criança ainda não sabe avaliar o que é bom ou não para si mesma, precisa da
medida de um adulto responsável para orientar seu bem estar e desenvolvimento
saudável, o que pode fornecer sustentação para lidar com sua vontade
futuramente.
As etapas da vida não se separam
a não ser didaticamente, para que possamos compreender o desenvolvimento,
porque o que foi vivido permanece na sua existência impulsionando outros
gestos, outros sentimentos e outros pensamentos. Daí a importância do
autodesenvolvimento, para a ampliação dessa consciência de si, para reconhecer o quê, como e para onde nossas vivências
nos impulsionam e, a partir disso, não só resignificar, mas também através do
exercício dessa vontade consciente, desse querer vigilante, metamorfosear o
impulso e 'tomar a vida nas próprias mãos', como nos sugeriu a Gudrun Burkhard,
no título de seu livro, tratando do processo biográfico.
Para quê trago esta reflexão
? Para dirigir a atenção para o mundo que queremos criar, para as relações que
queremos vivenciar, para o propósito do que queremos. Sem que nossa vontade atue, não daremos o próximo passo, não nos direcionaremos para as nossas metas.
Como nos trouxe Steiner:
'Disciplinemos
nossa vontade e busquemos o despertar interior todas as manhãs e todas as
noites.'
A convocação no encerramento
do Verso para a época de Micael é um chamado de grande importância e, como está
citado, implica numa condução da vontade, diariamente.
Para onde tem dirigido o
impulso da sua vontade ?
Olivia R S Gonzalez, com
vontade de colaborar com processos de desenvolvimento, atua como
Aconselhadora biográfica,
terapeuta corporal e floral, e coordenadora do Espaço terapêutico Movimentos.
[1] Bernard
Lievegoed, em Desvendando o Crescimento.
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