domingo, 3 de novembro de 2019

À vontade


Quem não sabe introduzir a sua vontade nas coisas, 
introduz nelas pelo menos um 'sentido': quer dizer,
 acredita que existe já ali dentro uma vontade (princípio da 'fé').
F. Nietzsche

Na abordagem do desenvolvimento humano, pelo prisma antroposófico, três âmbitos são enfatizados para que, em equilíbrio (dinâmico), sustentem a saúde do ser humano.
Pensar, sentir e querer são os aspectos que paulatinamente vamos desenvolvendo em cada um dos três primeiros setênios e, pela vida afora, vamos (ou deveríamos ir!) lapidando.
Na jornada do desenvolvimento desses três aspectos, o querer é a primeira a merecer nossa dedicação.
A vontade que pode nascer como capricho pode se tornar uma aspiração. Como conduzir esse processo?
Ali no primeiro setênio da nossa existência, em que vamos nos deparando com o mundo, estamos cheios de vontade para explorar nossos sentidos e o que nos rodeia. Somos despertados pelo movimento das nossas mãos e depois descobrimos o que podemos fazer com elas!
E não é de surpreender que a criança no primeiro setênio, no processo de aprendizagem por imitação, "julga o adulto pelo que ele é capaz de fazer, e não pelo que sabe intelectualmente.[1]"
A importância dessa fase da vida se revela por muitos motivos e por isso mesmo nos permite explorá-la em tantas direções.
No descobrimento de nossas mãos e na percepção do que o adulto faz, podemos nos deparar com o impulso da vontade despertando e nos movendo em direção ao que queremos.  
E, com tantos estímulos ao redor, naturais ou provocados, a criança nessa época se move principalmente pelo querer, pela vontade. E ela quer tudo! E isso mostra o interesse pelo mundo, pelas pessoas, pelo alimento e coisa e tal. Até que na ânsia desse querer, sem o devido limite, ela se excede e começa a perturbar o próprio desenvolvimento.
Daí a necessidade de educar o querer da criança.
A força ativa de seus membros é mobilizada pela sua vontade, e as atividades que envolvam movimentos como rasgar papéis, subir em árvores, por exemplo, são vivências educativas da vontade.
O mesmo impulso para lidar com suas atividades lúdicas demonstra a força com que enfrentará suas dificuldades no decorrer da sua existência.
Sua vontade não é consciente nesta etapa da vida e não deve ser impregnada de conceitos teóricos. E como a criança ainda não sabe avaliar o que é bom ou não para si mesma, precisa da medida de um adulto responsável para orientar seu bem estar e desenvolvimento saudável, o que pode fornecer sustentação para lidar com sua vontade futuramente.
As etapas da vida não se separam a não ser didaticamente, para que possamos compreender o desenvolvimento, porque o que foi vivido permanece na sua existência impulsionando outros gestos, outros sentimentos e outros pensamentos. Daí a importância do autodesenvolvimento, para a ampliação dessa consciência de si, para reconhecer o quê, como e para onde nossas vivências nos impulsionam e, a partir disso, não só resignificar, mas também através do exercício dessa vontade consciente, desse querer vigilante, metamorfosear o impulso e 'tomar a vida nas próprias mãos', como nos sugeriu a Gudrun Burkhard, no título de seu livro, tratando do processo biográfico.
Para quê trago esta reflexão ? Para dirigir a atenção para o mundo que queremos criar, para as relações que queremos vivenciar, para o propósito do que queremos. Sem que nossa vontade atue, não daremos o próximo passo, não nos direcionaremos para as nossas metas.
Como nos trouxe Steiner:
'Disciplinemos nossa vontade e busquemos o despertar interior todas as manhãs e todas as noites.'
A convocação no encerramento do Verso para a época de Micael é um chamado de grande importância e, como está citado, implica numa condução da vontade, diariamente.
Para onde tem dirigido o impulso da sua vontade ?

Olivia R S Gonzalez, com vontade de colaborar com processos de desenvolvimento, atua como
Aconselhadora biográfica, terapeuta corporal e floral, e coordenadora do Espaço terapêutico Movimentos.



[1] Bernard Lievegoed, em Desvendando o Crescimento.

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