Quando falo sobre a comunicação
não violenta (CNV), muitas pessoas dizem: “mas eu não sou violento com o outro”.
A questão é que, muitas vezes, somos conosco, ao não falarmos o que pensamos,
sentimos e o que é importante para nós.
A CNV propõe uma forma de
comunicação que cuida de ambos os lados, encontrando um caminho de equilíbrio,
saindo das polaridades da passividade — onde me calo para não magoar o outro –
e da agressividade – em que falo sem o respeito com o outro.
É possível, sim, nos
relacionarmos de um jeito em que haja empatia comigo e com o outro! Por isso, a
CNV também é conhecida como comunicação empática.
Gostaria de trazer como esse
método de comunicação nasceu. Criado na década de 60, pelo psicólogo Marshall
Rosenberg, inspirou-se nos princípios de “não violência” de Gandhi, essencialmente
nos seguintes:
Ahimsa: em sânscrito,
significa “não violência”, como um ato de não ferir a si e ao outro.
Sarvodaya: busca o
bem de todos, aquilo que cuida de mim, do outro e do todo.
Swaraj: traduzido como “eu rei de mim mesmo”, tem a ver com
protagonismo e a capacidade de cuidar de si, dos próprios sentimentos,
necessidades e ações, sem se vitimizar e terceirizar esses cuidados para o
outro.
Marshall também
se baseou na “Abordagem Centrada na Pessoa” do psicólogo Carl Rogers. Essa
abordagem vê o ser humano pelas suas potencialidades e pela sua capacidade de buscar
o que atende suas necessidades.
"O
indivíduo tem dentro de si amplos recursos para autocompreensão, para alterar
seu autoconceito, suas atitudes e seu comportamento.” Rogers
A CNV portanto busca, em sua essência, a
conexão, através da expressão de sentimentos, necessidades e pedidos claros. Nela
há a união da empatia e da assertividade, por meio das quais falo o que é
importante para mim, sem agredir o outro.
Para isso, é importante ter autoconhecimento
e compreensão do que se está passando no mundo interno. Considero a etapa de
autoempatia como essencial, pois quando entro em contato com os meus
sentimentos e necessidades, me organizo internamente, começo a distinguir, por
exemplo, o que é um fato observável diante de um conflito e o que são meus
julgamentos e interpretações que, no caso, têm a ver com as minhas crenças e
minha lente em relação à vida.
Quando me organizo internamente, zelo pela relação
comigo para, em um segundo momento, essa atenção se estender ao outro, através
da escuta empática e da expressão autêntica. Na escuta empática, me abro para o
mundo interno do outro, buscando compreender seus sentimentos e necessidades.
Isso nos faz humanos e cria empatia, abrindo espaço para relacionamentos
saudáveis e verdadeiros.
A expressão autêntica é o momento em que
comunicamos a nossa verdade, falamos a partir dos nossos pensamentos e
sentimentos e podemos fazer pedidos ao outro. É comum muitos dos conflitos
nascerem pois esperamos que o outro adivinhe o que queremos e, quando ele não o
faz, nos frustramos porque ele não o fez. O que é óbvio para mim não é para o
outro, por isso precisamos ser protagonistas e expressar nossas necessidades.
Assim, o outro terá a oportunidade de dizer se é possível atender nossos pedidos
ou não, já que estamos falando de pedidos e não exigências.
A CNV visa “fortalecer a capacidade de continuarmos humanos, mesmo em condições
adversas”, ensina Marshall Rosenberg.
O sentir nos faz
humanos, não só o pensar, porém me parece que, por muito tempo, valorizamos demasiadamente
a capacidade de pensar. Fomos condicionados, quando crianças, a focar no dez, depois
a entregar nossos números em nossos trabalhos e o sentir cada vez mais foi
ficando excluído do nosso dia a dia, principalmente sentimentos julgados errados,
como a raiva e a tristeza. Contudo, não há sentimentos errados.
Talvez por isso
estejamos ficando tão doentes, com a dor profunda do vazio. Precisamos nos
lembrar então de que o sentir é humano e ele nos guia para nossa autenticidade,
espontaneidade e liberdade.
“Nossos sentimentos são nossos caminhos mais genuínos para o
conhecimento.” Audre Lorde
Andressa Miiashiro
Psicóloga, facilita jornadas de desenvolvimento com foco em
inteligência emocional e relacional, por meio do Psicodrama, Comunicação
Não Violenta e Antroposofia. www.lotustalentos.com.br
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