
Falar de maturidade no contexto Antroposófico nos remete
automaticamente ás fases da vida e todo significado que trazemos a partir da
metodologia biográfica para nossa história e todo processo, caminho que
chamamos de maturidade. Só amadurecendo podemos receber as dádivas do tempo em
nossas vidas não é mesmo?
Hoje quero trazer uma outra perspectiva. No desafio de tratar
a maturidade sem necessariamente me repetir ou, ao menos lançarmos um novo
olhar, quero falar do amadurecimento que nos renova.
Como assim? Então amadurecer pode nos renovar? Sim, pode!
Ao amadurecer podemos nos renovar. Uma maçã que está
madura pode ser colhida, se tornar alimento e sua semente pode gerar outra
macieira certo? E como ocorre conosco esse processo de renovação na própria
vivencia humana?
Par nós seres humanos não é necessário nos tornarmos
sementes para que a renovação aconteça. Podemos em vida plena nos renovarmos a
partir do olhar e do agir para a vida de uma nova maneira.
A maturidade não precisa nos tornar mais sisudos ou mais
“enferrujados”, ela pode nos servir de liberdade. Liberdade para agirmos da
maneira como nos faz mais sentido e com maior significado.
A maturidade pode nos trazer a clareza de que todas as coisas
e inclusive a nossa própria vida um dia chegará ao fim. Com essa visão ao invés
de nos assustarmos, nos renovarmos, viver a vida como se fosse acabar logo e
nos perguntarmos: e se acabar amanhã? O que eu estou fazendo e deixando? Quais
alimentos estou oferecendo à minha alma e ao mundo, às pessoas ao meu redor?
Os pensadores estóicos nos trazem interessantes reflexões
a respeito dessa clareza de que a vida um dia acaba. O “memento mori” é uma expressão usada por exemplo quando um general romano voltava para casa
depois de uma campanha vitoriosa no exterior, era tradição a cidade sediar uma
gloriosa cerimônia pública em
sua homenagem.
Mas enquanto seu triunfo era celebrado de maneira entusiasmada pelo povo, um
homem ficava atrás do general em sua luxuosa carruagem, sussurrando a seguinte mensagem
em sua orelha: “Respice post te. Hominem
te esse memento. Memento mori.”
Em português seria algo como: “Olhe ao seu redor. Não se
esqueça de que você é apenas um homem. Lembre-se de que um dia você vai morrer.”
Por mais macabro que isso pareça, a expressão “memento mori” é de uma
grande sabedoria. Diversas religiões e correntes filosóficas, como o
budismo e o estoicismo, adotam esse conceito como base de seus ensinamentos.
A ideia de que vamos voltar ao mundo espiritual um dia causa terror em
praticamente todos nós. Por isso evitamos pensar sobre o assunto. Nossa cultura
é devotada a prolongar a juventude o
máximo possível, como se pudéssemos viver eternamente.
Acontece que não dá. A melhor opção, portanto, é fazer as
pazes com a noção da nossa mortalidade.
Daí a expressão “memento mori”.
A certeza de que vamos morrer não tem como objetivo nos
jogar para baixo. Pelo contrário. Ela serve como motivação para viver melhor. Aproveitar os dias de maneira mais
significativa e virtuosa.
Quando você se lembra de que está se aproximando mais da morte a cada dia que passa, isso
te encoraja e a pode
ser a renovação que citei aqui, no início do texto.
Me refiro à renovação necessária para fazer as coisas
importantes da vida aqui e agora, sem procrastinar, deixando as superficialidade
e materialismos de lado. Cada alma humana vivendo na terra tem suas tarefas e
meditarmos no fato de que temos um tempo limitado para nos desenvolvermos pode
nos oferecer essa consciência renovada.
A cada passo da maturidade temos a proximidade do “memento mori” e então uma maior
possibilidade de nos questionarmos quanto às renovações necessárias que a
maturidade nos oferece.
Creio que vale a pena então nos perguntarmos: quando é a maturidade da vida? A partir da perspectiva de que
o “Memento Mori” não tem data marcada ou pelo menos não nos é informada
claramente, a maturidade é hoje, agora.
“Memento mori”. Eis
uma boa frase para nos guiar pela vida e meditarmos a respeito da maturidade.
Michele Pereira
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