quinta-feira, 6 de setembro de 2018

A transformação do sentir dos 7 ao 14 anos


          Com a chegada dos 7 anos e a troca dos dentes a criança entra numa nova fase da vida. As forças que trabalharam muito no corpo da criança pequena agora se colocam à disposição do pensar. A criança está mais ágil nos movimentos, perdeu aquele tronco roliço da criança pequena e agora está aberta a um novo mundo, cheio de expectativa pelo que virá. A criança, que até agora aprendia sobre o mundo pela imitação, vai aos poucos deixando essa qualidade e ganhando outra conotação, a de representação pictórica, a de reflexão e associação das percepções. A atividade interior é intensa e extremamente rica, onde as imagens atuam criando o que chamamos de fantasia, imaginação.
          A criança dos 7 anos se interessa pelo mundo, pelo que contam a ela, em especial pelas imagens conceituais, pelas belas histórias. O papel dos contos de fadas é de suma importância nesse primeiro período. A criança ganha também a qualidade de saber recontar o que ouviu. A criança agora está apta para a aprendizagem formal, conhecer o mundo da escrita e da leitura, dos números. Podemos dizer que esse período dos 7 aos 9 anos forma um bloco, uma unidade, em que a criança tem muita vontade de fazer, respeita o professor, que goza de autoridade ilimitada. Esse caminho deve ser suave, adequado ao pensar que está em pleno desenvolvimento. A memória passa a ser treinada também. Assim, aos poucos, a criança vai se desligando da vida infantil, e ao passar por uma metamorfose no âmbito dos sentimentos vai experenciar agora um novo âmbito, que ao redor dos 9 anos vai ficar aparente.
Podemos, ainda, pensar na criança da fase dos 9 aos 12 anos, quando nova transformação ocorre na criança para com o mundo. Agora aquele mundo dos 3 primeiros anos escolares lhe parece infantil demais e aparece a crítica. Chamamos de rubicão, a fase que a criança dos 9 anos experiencia. Ela sai daquele “paraíso” infantil e através da objetivação de seu pensar, vivencia a solidão, o medo, a relação com a morte, como um problema. Novas sensações chegam e com ela um pensar crítico. Há também um agudo senso de observação. Ela se vê fora do mundo e não mais una com ele, como era até então. É nessa fase a vivência da natureza, seu maior aliado e “alimento”. A criança tem um olhar aberto para a natureza e assim se satisfaz imensamente quando contamos a ela coisas sobre esse ambiente. O caminho da história da humanidade, os primeiros povos, seus mitos de origem também encantam e trazem um efeito sanador a todos esses conflitos internos. Isso vai se acalmando aos poucos e se transformando no decorrer dos próximos anos.
No período dos 12 aos 14 anos, que chamamos de pré-puberdade, vivenciará nova transformação do seu ser, em que a forma de se relacionar com o mundo se modifica novamente, parece que toda aquela vontade que antes identificávamos nela agora se direciona a pontos específicos de seu interesse, em especial o interesse de conquistar o mundo. Junto com esse sentimento, muitas vezes percebemos uma maior agressividade, em especial nos meninos, que mostram prazer em brincar de agressão. O que importa é vivenciar a vontade, o impulso. Também os meninos formam grupos, se separam das meninas e tendem a desprezá-las nessa idade. Elas também formam grupinhos, porém a ânsia de conquistar o mundo para elas acontece de forma mais interior, com sonhos. Elas começam seu desenvolvimento fisiológico mais cedo, crescem, e suas forças parecem ser absorvidas pela maturação corporal, o que traz uma diminuição de seu desempenho objetivo e mostram-se cansadas mais facilmente. A chegada da menarca faz a vitalidade parecer retornar, assim como as situações de intempestividade dos ânimos se acalma novamente. Enquanto a menina experimenta a diminuição de sua energia, o menino explode em vitalidade, parecendo precisar se livrar do excesso de forças, seja em atividades planejadas, seja em atrevimento. Este menino é mais realista em sua visão com o mundo, quer conhecê-lo com as mãos.
Podemos concluir assim que, durante este segundo setênio, a criança passou por uma transformação do pensar, sentir e querer dentro do âmbito fechado da própria personalidade. Ao adentrar a puberdade, no que chamamos de terceiro setênio, o jovem, que passará por um turbilhão de transformações no âmbito da corporalidade, da maturação sexual e dos sentimentos, iniciará um sutil processo de desenvolvimento social da alma, quando o adolescente precisará posicionar-se no mundo e atuar nele ativamente, através de seu próprio interior.

                    Carla Guedes
                    Professora de classe da EWFA

                    Psicopedagoga e terapeuta de Extra Lesson

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