quinta-feira, 26 de julho de 2018

O nosso corpo humano




Diversas culturas antigas já consideravam a constituição do homem através de mitos e lendas. Nelas eram sempre representados os quatro elementos primordiais da unidade da natureza: terra, água, ar e fogo. Esses elementos, por sua vez, se associam a constituição quádrupla da natureza do corpo humano. Como exemplo, na mitologia dos índios guaranis, o Deus Tupã criou o homem por estátuas de argila (terra e água), soprou-lhes vida (ar) e lhe deixou espíritos do bem e do mal (fogo). Simbologias similares são encontradas na filosofia, na mitologia grega e no Gênesis.
Compreender essa constituição quádrupla nos leva a entender antroposoficamente os processos de saúde e doença no ser humano.

O corpo físico (CF) tem imagem do reino mineral, sofrendo ação das leis da física e da química, e portanto sua dimensão é o espaço. Esse nosso substrato material, inicialmente determinado pela hereditariedade, sofre transformações em ritmo denominado setenal (a cada 7 anos), cedendo lugar as forças da individualização. É o único corpo acessível ao sensório do ser humano. Sua relação é com o elemento terra e o órgão-alvo é o pulmão. A qualidade da consciência deste corpo é o estado do sono profundo.

Um segundo corpo, denominado corpo vital ou etérico (CE), se opõe a característica de desintegração desse corpo físico. Sua capacidade vitalizante se espelha no reino vegetal e se manifesta através do elemento água. Sua metamorfose ocorre no segundo setênio e suas principais expressões são oriundas do crescimento, nutrição, regeneração e reprodução. Sua relação com a água faz do fígado seu órgão-alvo. Sua consciência é o estado do sono sem sonhos.

O terceiro corpo que compõe o homem e se ancora no corpo vital é o corpo astral (CA). Se relaciona com o reino animal e como tal é dotado de anima, de movimento e sensibilidade. Ele nos transmite a consciência do nosso corpo que se traduz pelos instintos (fome e sede), simpatia e antipatia perante os estímulos, sensibilidade (dor e prazer), catabolismo e excreções. Sempre se manifesta em polaridades e age pelo elemento da natureza aérea. Sua metamorfose ocorre na maturidade sexual, no 3o setênio. O sistema endócrino é expressão específica da atividade do CA. Do ponto de vista da consciência é o estado onírico, na medicina é o estado da alma. Seu órgão-alvo são os rins, que tem a função de astralisar as substâncias provindas da digestão.

O corpo vital e o corpo astral são percebidos indiretamente pela suas atividades. E todos os três corpos acima são permeados pelo organismo de calor através do qual age o EU humano, o quarto corpo da constituição quádrupla.

Surge o princípio espiritual do ser humano que escapa a qualquer observação física. Ele constitui a base da consciência vigil, permitindo a nós, seres humanos, pensar, falar e andar. Essas capacidades precisam ser conquistadas na nossa evolução terrena, o que nos permite adquirir autoconsciência e autorreflexão. Quem propaga o calor pelo nosso corpo é o sangue e quem lida com o movimento do sangue é o coração, o que o torna o órgão alvo dessa organização corporal.

Segundo a antroposofia a interação adequada e harmoniosa desses quatro níveis de organização corporal se traduz na saúde humana. O EU nunca adoece pois nele vivem as forças sanadoras que nos ajudam a superar os obstáculos da vida.

O que nos distingue uns dos outros é que cada um, devido ao seu EU, pode dominar seus instintos e impulsos e fazer suas escolhas, fruto da liberdade conquistada.

Um conto de fadas belíssimo e inspirador que representa simbolicamente a relação desses corpos é “os quatro músicos de Bremen”. Quatro animais, cada um representando uma das quatro organizações, deixou seus lares fugindo da morte em busca da cidade das pessoas livres. É um conto que fala da experiência do espírito humano, através da música, que é a harmonia das esferas.

Dra Lucila Miranda Araújo
Pediatra, com ampliação antroposófica
Fotógrafa e atriz

quinta-feira, 19 de julho de 2018

Nosso corpo e a relação com os reinos da natureza



Há alguns anos, venho trabalhando com as pessoas, organizações e grupos, sobre qual a relação do nosso corpo com a natureza e a cada trabalho um novo aprendizado.
Outro dia abordando este tema com um grupo de jovens, um deles me falou:
- Vamos construir uma nova imagem do Ser Humano?
Esta fala me impactou, pois realmente esta visão do ser humano, nos permite construir uma nova imagem e também entender que somos um microcosmo desta grande natureza.
Então vamos lá.
Vamos falar da visão quadrimembrada do Ser humano, com seus quatro corpos.
Vamos voltar um pouco na história e lembrar nosso conhecimento sobre os reinos da natureza: mineral, vegetal, animal e por fim o ser humano!
No reino mineral, encontramos diversas formas, consistências, rigidez e ele obedece a lei da gravidade.  
No reino vegetal, encontramos as plantas, que vence a força da gravidade, ganha movimento, flexibilidade, cresce em direção da luz, transforma gás carbônico em oxigênio. Absorve a água da terra e deixa fluir pelo corpo da planta.
No reino animal, encontramos deslocamento, comunicação, expressão, obedece seus instintos, procura  alimentos, caça, procria, alguns constroem suas casas, se aproximam e se afastam de outros seres.
Mas você deve estar se perguntando onde está a relação?
Ah, agora vamos falar dela.
Quando olhamos  para o corpo do Ser Humano através dos quatro  níveis, podemos encontrar a relação com os  três reinos e mais Um.
Rudolf Steiner, fundador da antroposofia, trouxe este conhecimento.
O nível  físico, também chamado de corpo fisico, está relacionado ao reino mineral, pois tem diversas formas e é rígido. Sua forma mais pura é identificada em um corpo sem vida. Aqui, podemos identificar, os ossos, o cálcio, os músculos enrijecidos do ser humano.
O nível vital ou etérico ou corpo Vital, permeia o corpo físico, pois ao dormirmos vegetamos como uma planta. Para termos certeza que uma pessoa está viva, quando está dormindo,  é preciso se aproximar e verificar se ela está respirando. Sabemos que o sistema respiratório e o sistema circulatório, oferece vida aos nossos músculos e ossos, pois lhes permite movimento. Aqui, nosso corpo Vital se conecta com o reino vegetal.
O nível  anímico ou corpo anímico, permeia o corpo etérico e físico, e se apresenta através da sensibilidade, traz a capacidade de deslocamento, comunica-se, expressa emoções. O corpo anímico se conecta com o reino animal.
Temos um quarto  nível ou corpo, que permeia o físico, vital e o anímico, denominado  Eu. O Eu diferencia o Ser Humano  dos outros reinos na  natureza, pois é o único que tem autoconsciência. Pode fazer suas escolhas com consciência.
Cada Ser Humano é único, não existe duas individualidades idênticas no planeta. Cada um  expressa de forma única, ao longo da vida, através de sua biografia, suas ações e reações, atitudes.
O Ser Humano, ao fazer suas escolhas se torna único e dono exclusivo de seus corpos.
É ele que decide, como vai lidar com seus corpos (físico, vital e anímico), como vai atender suas necessidades, como vai reagir perante as situações da vida, como vai dominar seu animal interior, como vai respirar, enfim é o Eu que define sua história.
O Eu, pode–se dizer é um coroamento de todo um processo de evolução dos reinos da natureza, mas ao mesmo tempo temos a natureza dentro de nós, sendo assim deixo uma reflexão:
Se todos os reinos da natureza se conectam com os corpos do ser humano, como será que o ser humano deve conectar-se com a natureza?
Márcia Andrade
Facilitadora de desenvolvimento de pessoas e grupos.
Facilitadora do Jogo da Transformação


Bibliografia:
Moggi, Jair e Burkhard, Daniel. O espirito transformador,Editora Gente(2003); Editora Antrposófica(2005).
Moggi, Jair e Burkhard, Daniel. O capital spiritual da empresa, Editora Campus/Elsevier(2009)

sábado, 14 de julho de 2018

Considerações sobre os sete primeiros anos de vida da criança (1° Setênio)




Desejo iniciar estas reflexões, na sequência da brilhante síntese apresentada pela estudiosa Rita Wey (vide artigo: A Criança no 1° Setênio) de 21/06/18.

São muitas as forças não visíveis que atuam sobre a individualidade do ser humano a partir (e mesmo antes) de seu nascimento. As influências cármicas interferem na determinação da escolha da família terrena na qual ela está encarnando, bem como o local (geográfico), a época do nascimento, o sexo, o temperamento, a raça, os dons e tantos outros. Sempre é útil lembrar que estas determinações cármicas referem-se às leis que garantem o equilíbrio cósmico, e não, como popularmente pode se acreditar, como um <castigo>. Esse novo ser terá de se confrontar gradativamente com as provas necessárias para seu desenvolvimento: direcionamento e lapidação dos impulsos, para fins de educação e, mais tarde, autoeducação.

Se ao nascer, o seu ninho for aconchegante (uma família amorosa e acolhedora), o desenvolvimento saudável será favorecido. Porém, alguns pais, na tentativa de promover esse aconchego, podem acabar exagerando na dose: vão ‘acolchoando’ demais a vida do filho e, sem querer (ou por querer) podem impedir que a criança conviva com frustrações necessárias e com experiências desafiadoras que são INDISPENSÁVEIS para o desenvolvimento da Vontade. Nestas situações, no aspecto psicológico da criança, pode se desenvolver a preguiça, a acomodação ou a "tirania" (algumas das manifestações do Sósia - ou sombra - no psiquismo humano). Mas, se durante os primeiros sete anos também prevalecerem as forças de Saturno (que representa o ’Pai’), essa criança será incentivada sempre a seguir adiante, ultrapassando obstáculos e dificuldades, desenvolvendo a coragem.
Cabe lembrar aqui, que especialmente nesse período, o psiquismo infantil vive “mergulhado” na atmosfera do corpo astral de sua própria mãe. Pode ser, por exemplo, que a criança verbalize, ou até somatize de forma simbólica (sintomas físicos e/ou psicológicos) alguns sentimentos e emoções da mãe. Por isso, quando o “ninho” é menos aconchegante ao nascer, a criança pode expressar alguns conflitos emocionais presentes na mãe. Isto quer dizer que a criança sente (ela capta) sentimentos, emoções e até alguns conflitos maternos (como por exemplo, sua preferência por menino ou menina, dúvidas sobre sua própria competência em educar um filho, dificuldade para conciliar a carreira com a maternidade e a vida conjugal, entre outros).
Interessante será, que os familiares e educadores estejam atentos para a curiosidade natural da criança: (é esperado, por exemplo, que o bebê, durante o primeiro e segundo anos, faça “experiências” relativas à Gravidade do planeta Terra, jogando objetos ao chão, repetidas vezes. Isto se deve ao fato de que, na região cósmica de sua procedência espiritual, vigoravam leis relativas a uma outra dimensão. Com a paciência e o bom humor dos adultos, ela pode ir assimilando, tranquilamente, essas realidades deste mundo físico).
Outras características naturais que podemos acompanhar, diz respeito às reações (popularmente chamadas) do “gênio” da criança. Denominamos, na Antroposofia, de Temperamento (nomenclatura utilizada por Hipócrates na Antiguidade). Embora esse repertório de reações seja mais definidamente expresso no segundo setênio, já podemos notar, por exemplo, quando a criança, durante esses anos, reage (preferencialmente), pacífica/passivamente. Pode tratar-se de uma criança ‘ Fleumática’; ou mais contida e entristecida (Melancólica) e assim por diante.
Interessante observarmos como a individualidade desse novo Ser irá se expressando ao longo de sua existência. Muito útil será se pudermos sempre proporcionar uma grande diversidade de materiais, instrumentos musicais, por exemplo, para e expressão de talentos naturais (dons são presentes da Vida).
Porém, é necessário relembrar que a sensibilidade e a sintonia entre mãe e filho são muito mais importantes do que qualquer diploma que a capacite. E que é natural que as mulheres vivam conflitos, dúvidas, inseguranças, pois é no momento em que a criança nasce, que também nascem a Mãe e o Pai.

Ivani Lasco Rotundo Simões
Psicóloga
CRP: 6 / 0.4982

quinta-feira, 5 de julho de 2018

A vida passa rápido




'Parece que foi ontem que você nasceu... que ficava no meu colo', é o que dizemos quando percebemos que a criança cresceu.
Que momento é esse?
Não costumamos proferir essa frase, num tom saudoso, quando nossa cria está com 3 ou 5 anos... isso costuma acontecer um pouco mais adiante quando ela já atravessou o segundo portal e deixou a primeira infância para trás.
O primeiro setênio, esse período entre o nascimento e os 7 anos, embora demande muito de cada mãe e pai, parece passar muito rápido, talvez tão rápido quanto os batimentos cardíacos deles.
E haja coração para lidarmos com as primeiras perturbadoras noites, com as cólicas, os sorrisos, a incansável repetição das brincadeiras, da contação de histórias, o insistente movimento para se erguer e dar os primeiros passos e, quando chegam as primeiras  palavras e ouvimos 'mãe', 'pai', nosso coração mergulha numa nova doçura e apropriação. Eles nos nomeiam. E então, o tempo passa mais um pouco e eles se reconhecem 'EU'.
Nada tem mais força do que quando EU quero! Antes era o  João ou a Maria que queria. Mas agora sou EU.
E nessa fronteira reveladora de si mesmo, quando o 'Eu' chega e o 'Não' também, a criança vivencia uma crise profunda de auto reconhecimento. A primeira crise existencial transborda e revela uma grande crise para os pais e educadores ao redor também: Como lidar com essa criança agora? Que birra é essa? Cadê aquela criança que aceitava as coisas com tranquilidade? são muitas das perguntas que surgem nessa fase.
Ajustes são necessários e a mãe também precisa mudar de lugar nesse relacionamento para que esse EU tenha seu  espaço, sem no entanto, se esparramar demais. Afinal, limites são necessários.
Como as contrações para o parto, o EU, essa fonte da consciência espiritual, fonte da nossa essência, também começa a se manifestar em contrações e expansões. E é necessário que algo o contenha. E esse 'algo' deve ser o cuidador/cuidadora responsável por essa criança em atento e disposto auto desenvolvimento.
A birra da criança é um movimento de busca de um novo lugar e se a mãe/pai/cuidador não se posicionar, esse EU também não saberá muito bem onde é o seu lugar. E, por incrível que pareça, é muito comum observar que quando a mãe encontra seu novo lugar, a birra deixa de fazer sentido e cessa.
É fundamental que os pais/cuidadores se apropriem da sua influência no bem estar da criança e cuidem mais de si mesmos e entre si para gerar crianças mais satisfeitas e tranquilas. Isso contribui inclusive para um relacionamento mais respeitoso na próximas fases.
A criança que se sente amparada e cuidada nesta época carrega consigo a semente que possibilita cuidar de si, do outro e do entorno, no futuro.
Ela merece isso. Afinal, tudo passa muito rápido!

Olivia Gonzalez

Tema de Reflexão do Mês

Escolhemos um tema como base de reflexão que será iluminado por profissionais de diversas áreas segundo seu olhar e suas vivências. Colaborações e comentários são bem vindos!

Iniciativas Antroposóficas na ZN

Escola Waldorf Franscisco de Assis (11) 22310152 (11) 22317276 www.facebook.com/EscolaWaldorfFransciscoDeAssis

Projeto Médico Pedagógico e Social Sol Violeta (PMPSSV)

Casa da Antroposofia ZN Rua Guajurus, 222 Jardim São Paulo (11) 35699600