Propósito, vocação e biografia
Onde as necessidades do Mundo e os seus talentos se cruzam, aí está a sua vocação.
Aristóteles
Qual seria o significado da frase de Aristóteles acima se substituíssemos a palavra vocação por propósito?
Como psicóloga e coach venho auxiliando as pessoas a reconectarem com seus talentos, seus saberes e a redescobrirem onde seu coração pulsa feliz ao realizar algo, ao fazer sentido. Podemos denominar de: busca de propósito, mas vejo que a palavra propósito em si não define a totalidade do movimento, que para mim é constante. Gosto de pensar que propósito é dinâmica pulsante, e não está em um lugar adiante, está no hoje, no agora, que podemos caminhar em busca de chegar mais perto e continuar buscando sempre.
Seja qual for o caminho trilhado pelo ser humano para realizar uma escolha ligada ao mundo das profissões ou caminhos de carreira e trabalho, sempre poderemos encontrar respostas e conexões em nossas histórias de vida. Portanto, a Biografia Humana pode ser, entre outras maravilhas, uma ampla fonte de recursos e descobertas para nos conectarmos com o tão aclamado propósito.
Tenho trabalhado com a retrospectiva biográfica aplicada ás técnicas de coaching com a profundidade que tive oportunidade de aprender com os Mestres do Instituto EcoSocial (Jorge Oliveira, Maria Lucia Petinelli e Maria Angélica Carneiro), partimos dos estudos das tônicas de cada setênio, onde arquetipicamente falando, todo ser humano possui “pontos de referência” para cada fase da vida.
A fase do amadurecimento biológico que compreende os três primeiros setênios (0 a 21 anos) proporciona ao ser humano aprendizados muito importantes, podemos citar alguns deles como o andar, o falar e o pensar, mas há diversos outros aprendizados e experiências fundamentais nessa fase que refletem em nossas escolhas profissionais, talentos e habilidades durante toda a vida e consequentemente nos afasta ou aproxima de nosso propósito.
No terceiro setênio, por exemplo, fase entre os 14 e 21 anos, os jovens muitas vezes atravessam a fase da escolha profissional e tenho ouvido histórias de diversas qualidades, mas algo comum a esta fase é um sentimento de angustia ou de pressão, muitas vezes conflitos e frustrações se fazem presentes.
Nessa fase o jovem começa a formular perguntas como: Quem eu sou? Quais são os meus valores? O que eu quero da vida? Ao trabalharmos essa fase em processos de coaching sempre questiono profundamente como foi essa fase, quais escolhas foram ou não respeitadas? De onde está o “fio da meada”? Qual foi a ideia original para que a pessoa pudesse escolher ou um curso de formação ou um intercâmbio?
É muito comum, na sociedade em que vivemos os jovens serem instigados a escolherem uma profissão a partir daquilo que é mais rentável do ponto de vista financeiro, não pelas habilidades ou perfil pessoal.
Certa vez uma jovem de 17 anos me disse após um programa de orientação vocacional que conduzi: “...Descobri que não é possível ser feliz em uma profissão se a gente não souber no que a gente é bom, onde nosso coração vibra e é feliz...”. Essa fala me tocou profundamente, pois essa jovem está tendo a oportunidade de, ainda no terceiro setênio se conectar com suas habilidades, seu perfil e se conhecer mais para tomar uma decisão, ou decisões e maior confiança para caminhar para o futuro.
Um querido professor e Mentor, Jair Moggi traz em seu livro “Assuma a direção de sua Carreira – os ciclos que definem a escolha profissional” um trecho que sintetiza uma experiência que tenho em minha história pessoal e na prática junto a meus clientes:
“...O ideal é sempre buscarmos a aplicação dos nossos talentos àquilo em que possamos realizar e nossa vocação. Por isso, é importante, de forma consciente, começar a pensar sobre as seguintes questões:
Quais são os meus verdadeiros talentos?
Qual é a minha vocação?
Qual é a minha missão de vida?
... cada ser humano é espelho do outro e cada um de nós traz, impregnado no fundo da alma, intenções não conscientes que o outro pode nos ajudar a descobrir. Essas intenções, se descobertas, proporcionam no âmbito da vida pessoal e profissional o sentimento de estarmos passando pelo mundo fazendo diferença...”
Podemos entender que o “Fazer a diferença” que Jair cita pode ser a aproximação do nosso propósito de vida. A época em que vivemos por vezes por leva a crer que vivenciar o propósito é algo de grande escala, que precisa ter visibilidade internacional e gerar muitos ganhos materiais. O propósito que estamos tratando aqui diz respeito a uma definição íntima a cada ser humano, aquela definição que está conectada com a maravilha de cada existência.
Quando buscamos compreender como a nossa história de vida nos conecta com nosso propósito, gosto de recordar um trecho do livro “Tomar a vida nas próprias mãos” - que muito me marcou em meus primeiros contatos com os estudos biográficos:
“O passado e o futuro se dão sempre as mãos. Assim como o passado impregna o caminho da vida de um lado, o futuro o impregna de outro. O momento presente é o resultado do passado e do futuro, do que está por vir. ”
Gudrun Burkhard
Assim, a cada momento presente é tempo de conexão com nossa história, potenciais e habilidades, talentos. O caminho para a conexão com nosso propósito está bem perto. No presente, há de se dançar a dança da liberdade verdadeira.
Michele Pereira
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