domingo, 30 de agosto de 2020

Breves reflexões sobre a Liberdade

 


Falar sobre Liberdade, sob a luz da Antroposofia, é uma tarefa exigente e desafiadora, então vou tentar colocar nesse texto algumas reflexões para os amigos leitores e amigas leitoras, com o fim de convidá-los a seguir nessa jornada comigo.

Caros amigos vocês já se fizeram essas perguntas:

Quando sou livre?

O que está por trás dessa liberdade?

Muitas pessoas respondem as perguntas sobre liberdade através de relatos como admirar uma praia bonita com o mar calmo ou na montanha contemplando uma paisagem de árvores e plantas.

Pessoas também respondem através de ações, como por exemplo: sou livre quando faço algo que me agrada e faz sentido, ou então quando faço o que quero.

Mas podemos nos aprofundar um pouco mais sobre essas perguntas sem invalidar as respostas dadas acima.

O que os dois relatos tem em comum?  O pensamento. 

“Observação e pensar são os dois pontos de partida de toda busca cognitiva consciente do ser humano.”  Rudolf Steiner GA 4

Assim, temos que tomar por base o pensamento e a observação para refletirmos sobre a Liberdade.

Em relação à contemplação das paisagens usamos nosso pensamento construindo representações mentais das plantas ou da praia, elas mobilizam um sentimento de prazer em nós, e como Steiner diz: “Também aqui o pensamento é o pai do sentimento.” GA 4.

No momento em que agimos para algo prazeroso, em primeiro lugar surge o pensamento da ação para depois executarmos a ação em si, nesse momento temos que respeitar toda uma convenção social presente na cultura da época, do lugar, não podemos simplesmente agir sem nenhum critério previamente analisado, então se conclui que, nas nossas ações concretas, nós não somos livres.

Mas podemos expandir nossa consciência, e podemos fazer um exercício de colocar o pensar como objeto de observação, isto é, pensar o pensar. Para esclarecer melhor a afirmação acima temos as palavras de Steiner em GA 4.

“Pelo fato de dirigir o seu pensar para a observação, ele tem consciência dos objetos; quando dirige o seu pensar sobre si mesmo, obtém consciência de si próprio, ou seja, autoconsciência....Ora, quando o pensar dirige atenção para sua própria atividade, ele tem em si mesmo, ou seja, seu sujeito, como objeto diante de si.”

Com esse exercício podemos enxergar os porquês dos pensamentos que pensamos, e de onde eles vêm, acessando nossos arquivos da memória que nos motiva pensar desse modo, e vamos observar que ações são praticadas a partir de pensamentos superficiais, levando em conta condicionamentos sociais ou normas, essas ações não são livres, mas as ações praticadas através do pensamento intuitivo, sem esperar nada em troca e em amor, essas sim são totalmente livres.

Do mesmo modo temos a prática de meditação, a busca por um autoconhecimento, nesse momento podemos observar nosso pensar, nossa respiração, cada parte do nosso corpo conscientemente, e essa meditação é feita em total liberdade, pois também não somos coagidos a praticá-la, a ação de meditar é livre.

Mas hoje, em plena Época da Alma da Consciência, Steiner nos convida a desenvolver o pensar intuitivo, para que a nossa ação seja executada em liberdade, pois a partir da observação do pensar podemos agir conforme o mundo das ideias.

“[…] encontra a liberdade como característica das ações que fluem a partir das intuições da consciência. Nessas considerações sobre a vontade humana, foi apresentado o que o ser humano pode vivenciar em suas ações para chegar à consciência, por meio dessa vivência: Minha vontade é livre. É de significado especial, que a justificativa para caracterizar uma vontade como sendo livre é obtida por meio da vivência: na vontade se realiza a intuição de uma ideia. Isso só pode ser o resultado da observação.” Rudolf Steiner GA 4.

Mas como desenvolver o pensar intuitivo?

Queridos amigos e amigas, vamos verificar na nossa vida cotidiana quantas ações são realizadas em “piloto automático”, vamos agindo de acordo com as pressões, convenções até mesmo seguindo uma religião.

Vejamos, peguemos um livro cujo tema central é mais denso, complexo e exigente e quando começamos a lê-lo, acabamos pensando na lista do supermercado, mesmo lendo as palavras e parágrafos. Ora, nem paramos para observar o nosso pensar, ele foi automático, mas vamos à experiência, lemos o mesmo livro analisando cada palavra e cada parágrafo o seu sentido, observando como isto se dá no nosso pensar, eu posso chegar a tirar conclusões sobre o livro por mim mesmo, porque estou consciente na leitura do livro.

Esse exemplo acima mostra como desenvolver o pensar intuitivo, quando  pensamos sobre o pensar  Steiner o chama de estado de exceção, porque  o pensar cotidiano  se dá através de representações mentais passando na nossa mente o tempo todo, é um estado comum, mas o pensar como objeto de observação do pensamento, este sim é um estado de exceção, pois necessita esforço próprio, e a partir desta prática começamos a fortalecer a nossa capacidade de atenção, buscamos sentido para os fatos, temos maior senso crítico e avaliamos se a decisão de agir  que  tomamos  é fruto da influência de algo externo a nós,  de algum  preconceito enraizado ou de “gatilhos” de memória de fatos que  nos influenciaram no passado.

Deste modo, passamos a agir no cotidiano com mais consciência, pois a capacidade de observação do pensar expande a nossa atenção ao todo, e assim, nossa ação poderá ser praticada conscientemente e em amor que nos leva a liberdade.

Portanto, o desenvolvimento do pensar intuitivo nos torna mais autoconsciente.

Podemos visitar a nosso passado e vermos também que, quantas vezes nós também agimos através do pensar intuitivo, tivemos situações onde observamos o nosso pensar, acessamos o mundo das ideias e chegamos a uma conclusão por nós mesmos, sem qualquer influencia de alguém ou pressão exterior que nos obrigasse, sem nenhuma expectativa de ganho, então podemos afirmar que nossa ação foi praticada em Amor que proporcionou a Liberdade.

Como disse Rudolf  Steiner em GA 4:

“Os espíritos livres, porém, não se conformaram com tal escravidão. Eles se levantam a partir do momento em encontram a si mesmos para seguirem os seus caminhos em meio ao caos das convenções, obrigações e exercícios religiosos. Eles são livres quando seguem apenas a si mesmos, não livres quando se submetem. Quem pode dizer que é livre em todas as suas ações? Mas em cada um existe uma essência profunda na qual se expressa um homem livre.

Nossa vida se compõe de ações livres e não livres. Não é possível formar por completo a ideia do homem sem pensar no espírito livre como expressão mais pura do homem. Verdadeiramente homens somos apenas como seres livres.

Muitos dirão que isso é um ideal. Sem dúvida! Mas é um ideal com fundamento em nossa essência e que está vindo à tona. Não é um ideal abstrato ou sonhado, mas um ideal que possui vida própria e se anuncia claramente mesmo em suas manifestações pouco perfeitas.”

O desafio da nossa época é trilhar um caminho de autoconhecimento e autodesenvolvimento, quanto mais nós praticamos o pensar intuitivo, mais encontramos conceitos únicos e claros que nos definem, e com isso conseguimos atuar cada vez mais no mundo com a força do Amor que faculta a liberdade, pois nos conhecendo temos maior clareza para refletir sobre nossas atitudes.

O agir a partir do pensar intuitivo é uma prática diária, não se consegue por passe de mágica, é uma meta a ser conquistada, mas quando agimos, seja em maior ou menor grau a partir desse modo de pensar, temos a nítida sensação de que foi uma ação genuinamente nossa e nos sentimos totalmente livres.

Temos que conviver diariamente com a pergunta: “Se eu soubesse o que realmente eu deveria fazer?” Mas quando encontramos as respostas corretas e agimos a partir do pensar intuitivo iremos também perceber que fomos instrumentos de forças superiores que nos auxiliaram e capacitaram além do que nós nos julgamos capazes, e então podemos dizer que, prestamos um serviço à meta de desenvolvimento da humanidade, se tornar a Décima Hierarquia da Liberdade e do Amor.

Em GA 4 Rudolf Steiner completa:

“A natureza faz do homem um mero ser natural; a sociedade, um ser que age conforme leis; um ser livre somente ele pode fazer de si mesmo. A natureza abandona o homem em determinado estado de sua evolução; a sociedade o conduz  alguns passos adiante; o último aperfeiçoamento somente ele pode dar a si mesmo.”

Caros companheiros de jornada na Ciência Espiritual essa é a minha pequena contribuição a partir do tema Liberdade, que é muito amplo e fascinante.

Agora eu finalizo o tema com um verso de Steiner, os quais podem ser meditados diariamente, a fim de nos fortalecer na prática do pensar como objeto de observação.

“Quando deixa viver

Nos alvos campos do espírito

A pura força do pensar,

A alma apreende a liberdade em seu saber,

Mas quando, com sua vida plenamente assumida,

Cônscio de sua liberdade, o homem

Insere na vida sua força de vontade,

A liberdade celebra sua realidade."

 

Rita Paula Wey Nunes da Costa

 

Tema de Reflexão do Mês

Escolhemos um tema como base de reflexão que será iluminado por profissionais de diversas áreas segundo seu olhar e suas vivências. Colaborações e comentários são bem vindos!

Iniciativas Antroposóficas na ZN

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